Utilizando a água de maneira sustentável, as comunidades da Região Murupu, Terra Indígena Serra da Moça, estão trabalhando em produções orgânicas de alimentos. O coordenador Enock Taurepang visitou a região nos dias 23 e 24 de setembro e pontuou o compromisso do Conselho Indígena de Roraima (CIR) com essas comunidades.
O Coordenador da Região Murupu, Alexsandro das Chagas, foi quem conduziu a equipe do CIR às roças das comunidades da Terra Indígena Serra da Moça, Serra do Truaru, Anzol, Morcego e Truaru da Cabeceira. “Para nos é um grande incentivo ver as produções. É isso que reforçamos e é isso que queremos, e dizer ao nosso estado que a gente sabe produzir e sabe trabalhar”, destacou a liderança.
Com roças familiares e comunitárias, parte da região Murupu se destaca por fazer uso da água das serras, por meio de uma barragem com 20 metros de comprimento. Toda a água desce por canos para as atividades agrícolas. Em algumas áreas os canos chegam a ter mais de 800 metros entre as produções e a barragem. Outras roças mais próximas chegam a ter 300 metros de encanação. É importante citar que toda a produção é controlada, já que a água é um dos bens preciosos da área.
O senhor Justino Carlos dos Santos, um dos moradores e produtor da comunidade Serra da Moça, contou que a barragem existe desde a década de 1970 e sempre foi usada pelas comunidades para a produção. A barragem atende aproximadamente 15 famílias em suas respectivas roças. “A agua já foi usada pra açude há muito tempo atrás, mas como era açude para peixe e plantação decidiram por plantações”, disse.
As produções irrigadas pelas águas da barragem são de pimenta, banana, mamão, ata, limão, tomate e graviola. As roças são tradicionais com o cultivo da mandioca, macaxeira, pimenta e abóbora.
O Senhor Francisco Neves dos Santos possui uma área de plantio com mais de cem pés de ata e graviola. Ele também possui roça para o cultivo de banana, limão, mamão. Existem também outras áreas de projetos na região, como a de feijão com três hectares e atende cerca de 20 famílias. Segundo o coordenador Alexsandro, serão 50 sacas de feijão por hectare.
Entre as visitas as roças um dos produtores mais antigos o Senhor Evangelista de Souza 74 anos retirava macaxeira para venda.
Um morador importante a se citar, é o senhor Anísio Bernaldino Duarte, ex-tuxaua, grande colaborador do cafezal da comunidade Mangueira. Apesar da distância ele sempre ajudou, muitas vezes indo de bicicleta até a Região Tabaio para auxiliar no cultivo do café.
Dona Jacira cultiva uma roça de oito linhas na produção de mandioca, abóbora, milho e feijão. Algumas sementes foram doadas ao CIR, para distribuição em outras regiões. Na área, ela também possui cerca de 40 pés de limão, alguns pés de laranja e goiaba. A área da roça de mandioca segundo ela, após a colheita dos produtos será transformada em pasto para o gado.
Na roça do senhor Leôncio Lourenço da Silva, as plantações são compostas por arroz, mamão, macaxeira, cana e mandioca. Em dias anteriores à visita, ele já havia colhido cinco sacos de arroz de sua plantação.
A equipe do CIR também fez visita a um dos projetos do Plano de Gestão Territorial e a Ambiental (PGTA) da comunidade Truaru. No local existe a criação de cerca de 500 peixes das espécies tambaqui.
Produções em comunidade sem terra demarcada
A comunidade Anzol, onde vivem 13 famílias das etnias Wapichana e Macuxi, é também uma área de plantio de mandioca, feijão, abóbora, macaxeira e milho. O vice – tuxaua, Del Wekeleson da Conceição, estava na produção de farinha no momento da visita e conduziu a equipe na comunidade que ainda não foi reconhecida como terra indígena. “Só queremos que sejam reconhecidos nossos direitos”, citou o vice – tuxaua.
Cineida Conceição Mafra, da comunidade Anzol disse. “Eu nasci e me criei na comunidade Anzol tenho 62 anos, é um terra que lutamos por demarcação, e todo ano eu tiro da minha roça bastante jerimum, milho e faço muita farinha.”
O coordenador do CIR, Enock Taurepang, falou sobre a demarcação da TI Anzol. “Temos visto a morosidade do governo que não tem tido vontade nem agilidade em demarcar ou reconhecer este território e isso prejudica na implementação de políticas públicas, a gente vem mostrar que o produtor não sobrevive de benefícios do governo, aqui só precisam de fortalecimento na questão da produção e não estão pedindo migalha, só precisam de politica publica e que se efetive o que está na constituição desde 1988 que é a questão da demarcação e reconhecimento das áreas indígenas.”
As comunidades Morcego e Truarú da Cabeceira possuem produções de mandioca, macaxeira, milho, maracujá e a variedade da tradicional pimenta.
A comunidade Truarú da Cabeceira, segundo o levantamento do tuxaua Jucinei de Souza, tem mais de 80 cabeças de gado, além de criações de galinha, porcos para venda e roças tradicionais. Algumas possuem plantações de banana e cana. Belarmino da Silva um dos moradores fez uma importante doação ao banco de sementes do CIR, o milho branco.
Ao final dos dois dias de visita o coordenador Alexsandro agradeceu a equipe e contou que região fará uma feira com previsão para os dias 6 a 7 de Novembro, visando mostrar os resultados das produções animais e orgânicas.