Regiões Baixo Cotingo e Surumu recebem doações de sementes tradicionais

A partilha e o trabalho coletivo das comunidades indígenas têm sido essenciais no enfrentamento às mudanças climáticas. Uma realidade que as comunidades vêm enfrentando no dia a dia, e buscam alternativas para suprir suas necessidades, principalmente relacionadas a segurança alimentar.

Com as sementes tradicionais como a mandioca e macaxeira [manivas], além do milho, feijão e outros produtos prejudicados devido à estiagem, lideranças indígenas têm buscado sementes em outras comunidades. Em algumas comunidades, como nas regiões do Baixo Cotingo e Surumu, as manivas secaram e ficaram improdutivas.

Coord. Regional Nélia Lima – ASCOM/CIR Helena Leocádio

Como nos modos tradicionais, coordenadoras regionais Nélia Lima, da comunidade indígena Camará, região do Baixo e Neilza de Souza, da comunidade Taxi, região Surumu, buscaram manivas de mandioca doadas pela comunidade indígena Canauanim, na terra indígena Canauanim, região Serra da Lua. Esse gesto de partilha vai garantir a produção sustentável ainda neste ano, dessas comunidades.

A comunidade Canauanim fica distante cerca de 25 KM de Boa Vista. No local vivem aproximadamente 430 famílias, dos povos Macuxi e Wapichana. Por lá, a forte seca também atinge a comunidade, mas, as manivas sobrevivem e agora suprem outras comunidades.

A tuxaua da comunidade Canauanim, Leilandia Cadete, afirmou que a partilha é importante, vai fortalecer a produção nas regiões e a ação reforça a união e solidariedade aos parentes que precisam de ajuda para manterem as roças.

“Fico feliz em poder compartilhar as manivas da nossa comunidade que vai ajudar nossos parentes. Temos pouca, mas, dá para compartilhar e a nossa vida é isso, um fortalecendo o outro, espero que elas façam um bom plantio e uma boa colheita”, afirmou a tuxaua.

Maniva da C.I Canauanim – ASCOM/CIR Helena Leocádio

Quem acompanhou as coordenadoras regionais nessa ação foi a Tuxaua Geral do Movimento das Mulheres Indígenas de Roraima, Kelliane Wapichana. Com sentimento de partilha coletiva, ela explicou que a iniciativa vai ajudar as regiões.

“A mudança climática tem impactado a nossa vida enquanto povos indígenas. É do nosso território que tiramos nossa alimentação e devido a forte seca, nós estamos nos adequando a essa realidade. A terra quente enfraquece as nossas sementes que estão sendo perdidas e essa troca é essencial para manter as famílias e a nossa sustentabilidade”, concluiu Wapichana.

Devido à estiagem, regiões como Surumú, perderam suas manivas e demais produtos, bananas, batatas e outros. Ao relatar a situação, a coordenadora regional das mulheres, Neilza de Souza, também agradeceu a doação das sementes tradicionais que recebeu da comunidade Canauanim.

“Estou grata. A realidade no Surumú é triste e essas sementes vão fortalecer nossa região e comunidades. E claro, estamos dispostas a contribuir com a comunidade Canauanim com tudo que pudermos”, pontuou Neilza.

Coord. Regional Neilza de Souza – ASCOM/CIR Helena Leocádio

A coordenadora Nelia, percebeu que devido a roça ficar em meio a mata, o ar não é tão quente, como a roça no lavrado da sua região. Admirada com a preservação das manivas, Nelia agradeceu pela doação e reforçou que as sementes serão plantadas na roça das mulheres.

“Nós viemos buscar manivas e levar para nossa comunidade, percebi que os nossos parentes ainda tem sementes, devido ao espaço geográfico e o clima que contribui para preservar as sementes tradicionais. Esse apoio é muito importante para nós e vamos plantar as manivas na roça das mulheres”, afirmou a coordenadora.

As sementes tradicionais são fundamentais para manter a sustentabilidade do território seja nas áreas de floresta, lavrado, serras e demais biomas. A ação solidária não só fortalece a agricultura familiar nessas regiões, mas também demonstra a união das comunidades indígenas diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Carro transportador das sementes – ASCOM/CIR Helena Leocádio

Com a perda da mandioca, principal produto da alimentação indígena, de onde é feito a farinha, o beijú e extraídos outros derivados com a goma e o tucupi, afeta não somente a segurança alimentar, mas também afeta o contexto o cultural dos povos indígenas que vivem um momento de emergência climática em todo o planeta.