Com quase 45 dias sem chuva, as comunidades indígenas têm enfrentado uma seca severa como nunca visto. Roças tradicionais, poços e cacimbas secos, e plantações queimadas, são só alguns dos resultados drásticos nos territórios indígenas.
Corrego seco que atravessa a Comunidade Indígena Serra Talhada, T.I Wai wai, Poço seco
Diante da grave situação, o vice- tuxaua Geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Enock Taurepang, visitou no período de 02 a 05 de março, terras indígenas afetadas pela seca e queimadas, para elaborar um dossiê junto às regiões que será levado ao conhecimento das instituições em Brasília, durante o Acampamento Terra Livre (ATL). O intuito é mostrar as dificuldades que as comunidades têm passado, além procurar uma forma de arrecadar fundos junto aos parceiros para a construção de poços artesianos e aquisição de matérias para tratamento, captação e armazenagem de água.
Foram levantados dados de áreas sensíveis nas comunidades indígenas, Serra Talhada e Quari quari (Wai-Wai – TI Trombetas Mapoera), Anzol e Truarú da Cabeceira (Murupú), Arapuá (Alto Cauamé), Mangueira (Tabaio), e no retiro estadual de Gado (Amajari). São entorregiões base do CIR.
Segundo o tuxaua da comunidade Serra Talhada, Claudio Katiwana, região Wai Wai, o consumo de água tem sido de forma moderada, já que o poço, secando, tem apresentado perigo às crianças da comunidade, que ao consumir a água passam ter problemas de saúde como diarreia. A água também tem sido escassa para banho, as caças diminuíram e córregos próximos secaram totalmente.
Poço Comunidade Serra Talhada, T.I Wai wai
Outro ponto crítico é o atendimento à saúde. “Precisamos de vacinas, está tendo caso de malária. Aqui é muito distante, mas precisamos de atendimento”, pediu o tuxaua, atenção das autoridades federais, estaduais e municipais.
As plantações na comunidade têm enfraquecido, bananeiras, mandioca entre outros tem representado uma grande perda em todas as comunidades, conforme verificou in loco, o vice-tuxaua Enock Taurepang. A fumaça também vem encobrindo as comunidades, deixando a qualidade do ar péssima, lideranças têm passado mal ao ponto de desmarcarem aulas e cultos devido a alta proporção de fumaça e focos de incêndios.
Um exemplo triste é o da comunidade indígena Mangueira, referencia na produção de café no Estado. Foi constatado que as roças dos jovens foram totalmente queimadas e causou prejuízo também as plantações de café que ficam próximas.
“Aqui foram 200 pés de cafés, mas a quantidade de banana perdida, não consegui contar. O café estava produzindo bem, estava indo para a segunda safra e agora está aqui ‘vermelho’, mas estamos na expectativa de que brote de novo”, afirmou o tuxaua, Forbim da Silva.
Tuxaua Forbim da Comunidade Indígena Mangueira mostra o prejuizo na plantaçõa de café
O vice-tuxaua Enock enfatizou durante as visitas que a organização tem se preocupado e agido conforme sua limitação para atender as comunidades, mas que também cabe às instituições federais uma ação concreta e urgente.
“O acesso à água é uma política primordial, sem água a gente não faz nada, então a gente precisa montar uma agenda conjunta com as lideranças, principalmente destas comunidades que não têm posto médico inclusive”. Enock também mostrou preocupação com o próximo ano, estimando uma estiagem mais severa devido às mudanças climáticas.
Destacou a ausência do Estado, principalmente na T.I Wai-Wai, onde a realidade do acesso à água é mais preocupante ainda. Segundo relato dos moradores, as crianças e adultos tem evitado tomar banho por conta da sujeira na água, ficando inapropriada para este tipo consumo.
Sem tratamento da água e atendimento médico para combater as doenças, a comunidade está em risco.
E reforçou que estenderá as ações junto à organização para fomentar prevenção a danos às comunidades.
Comunidade Indígena Anzol, area queimada, caixa de agua da comunidade e corrego seco
Fumaça sobre a flora da Comunidade Indígena Arapuá