Comunidade indígena Serra da Moça promove programação especial em alusão ao mês da mulher e destaca combate à violência

“Toda mulher carrega o dom de transformar o mundo”, com essa frase de fortalecimento, as mulheres da região Murupu, foram recebidas no barracão comunitário da comunidade indígena Serra da Moça, durante a programação alusiva ao mês da mulher.

Realizado pela equipe pedagógica da Escola Estadual indígena Adolfo Ramiro Levi e a comunidade, o evento foi planejado desde o ano passado, para levar às participantes palestras educativas sobre os direitos da mulher, os tipos de violências, lei Maria da Penha e empoderamento feminino.

“Nós vimos a importância de sensibilizar toda a comunidade sobre o assunto, estão participando os jovens, mulheres e isso é bom, trabalhar essa parte educativa, de orientação à todas nós mulheres indígenas”, considerou Rosineia Felipe, gestora da escola estadual.

Tuxaua Kelliane Wapichana – ASCOM/CIR
Coordenadora Raquel Wapichana – ASCOM/CIR

O evento contou com a presença da tuxaua-geral do Movimento de Mulheres Indígenas de Roraima, Kelliane Wapichana, da coordenadora do departamento da Juventude, Raquel Wapichana, da psicóloga indígena, Iterniza Macuxi, e da coordenadora da Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR) Gabriela Peixoto.

A psicóloga Iterniza André, do povo Macuxi, que atua no Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste/RR), começou a palestra dizendo “Nenhuma mulher tem o direito de ser agredida”, ao se referir aos tipos de violência que as mulheres sofrem no dia a dia , seja em casa, na rua, no trabalho e até na escola.

Psicóloga Iterniza André – ASCOM/CIR

Também explicou sobre as violências sexual, psicológica, patrimonial, moral, física, e os meios de denunciar os casos e proteção. Iterniza, citou também que na maioria das vezes a violência física ocorre quando o agressor está bêbado, e a situação não afeta somente as mulheres, os filhos também ficam traumatizados, o que tem contribuído para o aumento de depressão entre os jovens.

A psicóloga, pediu às mulheres para serem fortes e unidas, para não deixar ninguém as violentar, e que todas são capazes de dar a volta por cima , não importa a idade. “Nós nos colocamos à disposição de todas, trabalhamos com equipe multidisciplinar, temos advogada, assistente social e psicólogas, atuamos para sensibilizar e orientar sobre o assunto”, informou. As ações ocorrem em parceria com outras instituições, como Tribunal de Justiça, Casa da Mulher Brasileira e outros parceiros.

A violência contra a mulher ainda é um tabu nas comunidades indígenas, que precisa ser quebrado, as vítimas sofrem em silêncio por medo de ficarem mal faladas ou por ameaças do próprio agressor. Mas, essa realidade precisa mudar, é o que vêm ocorrendo aos poucos por meio das ações do Departamento do Movimento das Mulheres Indígenas de Roraima.

A tuxaua- geral do Movimento de Mulheres Indígenas, junto às coordenadoras regionais de mulheres, tem levado às mulheres orientações sobre seus direitos, informações sobre a lei Maria da Penha e autoestima.

“Nós temos levado oficinas, palestras, debates sobre o assunto para dentro do território. Mas, é muito triste quando recebemos denúncias de lideranças sobre abuso sexual contra jovens e crianças, de mães sendo violentadas, são palavras muito fortes,que precisamos falar para que possamos mudar essa realidade, já chega de sermos silenciadas precisamos ecoar nossas vozes , não se calem”, ressaltou Wapichana.

Crianças da comunidade participando com apresentações- ASCOM/CIR

Também participaram do evento, as equipes do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Referência de Especialidade de Assistência Social (CREAS) e Patrulha Maria da Penha da guarda civil municipal. Cada uma explicou a área de atuação no auxílio às mulheres.

A guarda civil Municipal, Jessyca Pereira, explicou como são feitas as ações da Patrulha Maria da Penha, que faz visitas periódicas às casas e verifica o cumprimento das medidas projetivas determinada pela justiça, e reforçou que as mulheres indígenas precisam conhecer os tipos de violência e tomar posse dos seus direitos.

“Para evitar as violências precisam ser feitas campanhas contra a violências nas comunidades, precisamos ser provocados para fortalecemos a rede de apoio às mulheres vítimas de violência doméstica, seja por meio de palestras, visitas e outras formas, tuxaua nos envie ofícios que estamos prontos para ajudar”, disse Jessyca.

Maria Rosália Floriano de Souza, é agente de saúde, moradora da comunidade Serra Moça, vez ou outra se depara com casos de violência,mas, que a própria vítima tenta esconder. Para ela, as palestras foram muito importantes, e trouxe mais conhecimentos que vão ajudar no trabalho.

“Eu tenho visto muito problema em relação à violação do direito da mulher, e muitas das vezes não conseguimos levar as denúncias adiante por medo das vítimas que não tem apoio e pela nossa própria segurança. Por isso, queremos segurança no nosso trabalho e para nós mulheres indígenas”, disse Maria.

Participantes do evento – ASCOM/CIR

Alexsandro das Chagas , vice -coordenador da região Murupu e tuxaua da comunidade indígena Serra da Moça, frisou que os casos de violência contra a mulher são grandes e as parcerias para combater esse mal precisam ser fortalecidas e agradeceu a participação de todos.

“Na nossa comunidade temos casos de violências sim. Nós enquanto lideranças tentamos resolver,prezar pela segurança. Mas, nem sempre conseguimos, pelo contrário, somos ameaçados,tratados com ignorância pelo agressor. Por isso, pedimos que a patrulha venha mais vezes aqui para nos orientar nesses casos”, concluiu o tuxaua.

Além das palestras, houve apresentações de músicas, poemas, e desfile sobre os tipos de profissões que as mulheres conquistaram ao longo do tempo. O encontrou contou com a participação aproximadamente 100 pessoas, entre jovens adultos e crianças.