Incêndios florestais avançam sobre terras indígenas em Roraima e focos de queimadas batem recorde

Nas imagens noticiadas o estrago deixado pelas queimadas, roças, casas e animais atingidos pelo fogo descontrolado, o desespero das pessoas tentando apagar as chamas, também fazem parte do triste cenário que afeta o estado de Roraima.

A destruição de tudo que foi conquistado com muito trabalho e suor, é angustiante, como o sentimento que o tuxaua da comunidade Bananal, Tecio Salim, da região São Marcos, município de Pacaraima, relata sobre o incêndio que acabou com as plantações de banana, manivas, casas de farinha e canos de água .

Aqui na região o  fogo saiu do controle,  tivemos grandes áreas de mata queimadas, as pessoas perderam suas roças, plantações de bananas, mandioca entre outras produções , se não tivesse o empenho de todos uma das casas teria pegado fogo por inteira, aqui está bem crítico”, relatou  Sarlim.

                                             Plantação de bananas atingidas pelas queimadas Imagem: acervo lideranças.

Outro relato é do tuxaua da comunidade Guariba, Ezequiel Laurentino da Silva, região da Raposa, na terra indígena Raposa Serra do Sol. O “crime ambiental” como ele chama o incêndio, que tem atingido a região, destruiu a vegetação próximo  a comunidade Uirapuru, o buritizal conhecido como  Diamante Negro, fonte de alimentos, e matéria prima para construção de casas , artesanatos e medicina tradicional foi tomado pela grande queimada.

“ Esse buritizal há muitos anos vem ajudando as pessoas, há uns cinco dias, eles estavam perfeitos, verde, bonito. Era daqui que as pessoas  tiravam palhas para cobrir as casas,  e agora está nessa situação todo destruído. Peço que os órgãos competentes que nos ajudem e tomem providências para achar os culpados que fizeram isso”, cobrou a liderança. 

               Imagens: acervo liderança região Raposa

Na comunidade indígena Pium, T.I Manoá-Pium, região Serra da Lua, além do intenso fogo, outra preocupação compartilhada pelo tuxaua Lázaro Wapichana, é a grande fumaça que vem afetando a saúde dos moradores.

“Dia e noite essa fumaça,  já vai fazer mais de duas semanas essa situação. Pedimos para o gestor suspender as aulas até amenizar o problema, isso tem afetado a saúde, pessoas passaram mal, os olhos ficam ardendo, não dá para dormir direito, ficamos sufocados pela fumaça”, contou Wapichana.  

Para evitar que o fogo se espalhasse pelas serras e comunidades, os moradores das comunidades indígena Lage e  Tabalascada, T.I Tabalascada, região Serra da lua, fizeram um mutirão durante dois dias para apagar o fogo na serra, antes de atingir ainda mais as comunidades. O chamado foi feito pelo segundo tuxaua da comunidade TabaLascada, Ítalo Raposo.

“ Sabemos que a batalha não é fácil, em volta da  nossa comunidade foi atingida com tanta fumaça e fogo, essa ação é para proteger nós mesmo, a nossa saúde, a nossa mata, eu agradeço aos professores, Aisan, coordenadores, juventude a todos que nos ajudaram”, agradeceu Ítalo

Moradores na serra da comunidade indígena Tabalascada
       Brigadista comunitário combatendo os focos de queimadas

Dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) apontam que Roraima concentra 22% dos focos de queimadas registradas no país, com 2.295 focos de calor, ainda de acordo com o instituto,  7 das 10 terras indígenas que mais apontaram focos de calor, destacam-se  T. I  Yanomami (230), Raposa Serra do Sol (91) e Terra Indígena São Marcos (21).

A Brigada Comunitária Indígena de Combate à Incêndios  do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental(Dgta), do Conselho Indígena de Roraima( CIR), tem desempenhado um papel importante na prevenção e combate ao fogo. Atualmente, são 54 brigadistas, distribuídos em  5 bases, localizadas nas regiões  Surumu (Comunidade Barro),  Tabaio (Comunidade Anta), Waiwai ( Comunidade Anauá), Serra da Lua(T.I Manoá Pium) e (Comunidade Jacamim).

Conforme o coordenador de campo das Brigadas Comunitárias, Jabson Nagelo, mesmo com os esforços em conjunto dos moradores, brigadistas comunitários, PrevFogo/Ibama,  a ação se torna pequena diante das queimadas que se espalham nas regiões.

“Os trabalhos nesse período foram bem intensos e complicados, os focos não param, em quase todas as comunidades indígenas tem algum fogo, mesmo não sendo grande, mas, tem. Em algumas comunidades onde foram feitos os trabalhos de queima prescrita, não houve incêndios grandes, já estamos verificando a possibilidade de colaborar em alguma ação grande”, esclareceu Nagelo.

Para ajudar as famílias afetadas pelas queimadas, o Conselho Indígena de Roraima(CIR), está com uma campanha de solidariedade para arrecadar fundos e contribuir com as famílias nesse momento crítico. Os interessados podem enviar as doações para os seguintes  dados bancários; Agência: 2617-4, Conta Corrente: 8198-1, Chave PIX: cir_daf@outlook.com, Banco do Brasil.

O CIR tem atendido às famílias atingidas pelas queimadas, conforme explicou Edinho Batista, coordenador geral do CIR.

“Estamos com muita demandas, pedidos de ajudar, tem faltado suporte para ajudar nossas comunidades, mas, não deixamos de atender nosso povo, tem comunidades perdendo gado pela seca e do outro lado da fronteira tem gado morrendo queimado, tudo isso é muito triste e preocupante”, reforçou Batista .

Mesmo com o governo de Roraima, decretando estado de calamidade pública e situação de emergência devido aos avanços da queimadas, a situação exige medidas efetivas  para proteger as comunidades.