Juventude indígena da Região Murupú promove Seminário de fortalecimento e valorização da cultura indígena

Com cantos, danças, parixara e oração, as jovens lideranças da região Murupú iniciaram na última segunda-feira (29), o II Seminário com o tema: “Fortalecendo os conhecimentos tradicionais e histórico da juventude”. O evento ocorre na comunidade indígena Truarú da Cabeceira.

A coordenadora regional, Mirian Demétrio, ressaltou que o evento busca a união e o fortalecimento da região e do movimento da juventude local. “Precisamos nos unir e fortalecer com as nossas lideranças tradicionais. Importante essa troca de experiencia entre os mais antigos com a juventude”, explicou.

Durante dois dias, mais de 100 jovens macuxi e Wapichana, das comunidades indígenas Anzol, Serra do Truarú, e Truarú da Cabeceira, debateram temas importantes para a garantir o fortalecimento da juventude.

No momento das falas das lideranças tradicionais, os jovens se mantiveram atentos para cada relato das lideranças tradicionais da região Murupú, que compuseram a mesa, no malocão da comunidade. Na pauta sobre “Incentivando novas Lideranças”, Enilton Wapichana é uma liderança tradicional, mora na comunidade Truarú da Cabeceira há 65 anos. A suas contribuições foram um pouco sobre as suas experiencias vividas ao longo dos anos.

Nós apontamos alguns itens importantes. A juventude precisa ter a clareza do que querem desenvolver, nas comunidades indígenas. Falei um pouco sobre a aptidão, é a forma de querer escolher aquilo que é bom, do querem desenvolver na comunidade. A juventude é importante eles podem ajudar as nossas comunidades. As lideranças Precisam contar com as experiencias das lideranças que passaram, serem reconhecidas e valorizadas”. Também pontuo as perspectivas para futuro. “Indico para promover uma campanha de chamada com a juventude e falar dos problemas no contexto cultural que estamos vivendo”, finalizou a liderança.

O Coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Edinho Batista, e a Secretária geral do movimento de mulheres, Kelliane Wapichana fizeram questão de participar do seminário. Expressaram os seus apoios à juventude.

Edinho Batista participando do seminário – (ASCOM/CIR)

“Viemos aqui expressar os nossos sentimentos. Temos que aprender com o nosso dia, com a nossa história, com a floresta. Estamos aqui para ouvir os senhores. Importante pensamos juntos. Como que nós povos indígenas estamos organizados. Precisamos conhecer a nossa história e valorizar. Para ter os territórios custou vidas. Essa valorização é muito importante”, expressou o coordenador.

Kelliane destacou a importância de os jovens estarem reunidos para melhorar a sua atuação, e disse que foi uma honra está nesse evento.

 

Vocês jovens estão se empoderamento. Aqui é um grande ensinamento para nós. Caminhar lado a lado com as nossas lideranças. Nós somos os grandes protagonistas da nossa história. Somos os povos originários”.

Kelliane Wapichana dialogando com os jovens – ASCOM/CIR

A coordenadora da medicina tradicional local, Maria Helena wapixana, ministrou uma mini oficina para os jovens, sobre a medicina ancestral dos povos indígenas. Pediu compromisso de manter a tradição. “Levem esse conhecimento a sério. É preciso vocês jovens darem continuidade da nossa tradição, é importante manter a valorização da nossa cultura”.

E ainda na pauta sobre a medicina tradicional, Vanessa Fernandes explicou sobre os apoios do CIR para fortalecimento da medicina tradicional, principalmente no período da pandemia onde a medicina tradicional foi essencial na cura e recuperação de várias famílias. E reforçou a importância da valorização. “É importante jovens valorizem a medicina tradicional, porque é um ensinamento que os nossos avós deixaram. E que antes dos remédios farmacêuticos, já existia onde nossos avós usavam para a cura de várias doenças”.

Segundo dia de programação

A saúde mental foi uma das pautas abordadas, no segundo dia de programação do II Seminário da Juventude região Murupu, a mesa identidade psicológica: O eu que vive em mim. A psicóloga indígena Eterniza Macuxi, do Distrito sanitário especial Indígena Leste de Roraima (DISEI- LESTE), compôs a mesa.

Entre os temas, a profissional pontuou o auto conhecimento, a importância do diálogo com os jovens, e o uso excessivo do celular, alertando para os problemas causados, como o baixo rendimento escolar, a falta de interesse por outras atividades e principalmente alienação pelos conteúdos exibidos em sites e redes sociais.

Os jovens precisam conhecer suas capacidades e não se abalar pela opinião dos outros, enquanto ao uso do celular é fundamental ser consciente no uso do aparelho, porque, quem sofre as consequências são vocês mesmos, por isso, é preciso saber usar a ferramenta em benefício próprio ou da comunidade, para que no futuro você desfrute da decisão que tomar agora ”, alertou Eterniza.

Eterniza em palestra com os jovens da região – ASCOM/CIR

Em alusão ao janeiro branco, mês do cuidado com a saúde mental, os jovens soltaram balões branco, e conforme Eterniza Macuxi, ações pontuais estão sendo realizadas nas comunidades.

Nós estamos com a campanha Bem Viver; cuidando da comunidade de janeiro a janeiro, a campanha traz a importância do cuidado com a saúde mental, falando um pouco de como identificar quais são os fatores e problemas que tem causado esse adoecimento psicológico e seguir os cuidados e prevenção com a saúde mental” ressaltou Eterniza.

Jovens com balões brancos em alusão ao janeiro branco – ASCOM/CIR

A tarde foi a vez da mesa “Conquistas e Desafios das Lideranças Jovens”, com a participação dos coordenadores regionais da juventude, das regiões Murupu e Alto Cauamé, cada um compartilhou experiência e falou das atividades e dos desafios a frente da coordenação.

Gerson Gomes, é coordenador da juventude na comunidade Sucuba, região Alto Cauamé, e afirmou que as falas da psicóloga, o ajudou a repensar situações vividas no ambiente familiar, o momento trouxe fortalecimento ,por mostrar o quanto é importante acreditar em si mesmo, na ocasião ele falou sobre a caminhada a frente da coordenação e do movimento indígena, deixou uma mensagem aos jovens.

Estar aqui é uma oportunidade importante, é o caminho que eu escolhi para mim, mesmo com grandes desafios. E eu digo a todos que nada é impossível, mas, sim ´possível, só depende de você, das suas atitudes e do seu interesse e objetivo tudo vai dá certo, nesses dias aprendi muita coisa e vou repassar para minha comunidade e região”, afirmou Gerson.

O vice- coordenador do Conselho Indígena de Roraima(CIR), Enoque Taurepang e Raquel Wapichana, coordenadora do Núcleo da Juventude, e Gessika Macuxi, vice- coordenadora da juventude região Surumu, também estiveram presentes no evento e participaram da roda de conversa; Resgate Cultural- Como Podemos Nos Fortalecer Diante da Circunstâncias.

Enock Taurepang na roda de conversa – ASCOM/CIR

Na ocasião Enock Taurepang, explanou sobre sua a experiência como liderança, a política do movimento indígena, a essência comunitária e sua importância e também o Fundo Rutu ou Jamaxim, que será desenvolvido pelo CIR, para dá apoio às famílias indígenas produtoras e fortalecer as comunidades. O vice-coordenador reforçou a juventude sobre a capacidade de sonhar.

“Vocês são capazes, sonhem, e realizem seus sonhos, mas, sem passar por cima das pessoas, não baixem a cabeça, porque isso, não vai mudar a realidade, sejam fortes porque todo esse repasse de informação veio para fortalecer quem a gente é de fato”, disse Taurepang.

Raquel Wapichana, trouxe para os jovens fortalecimento por meio dos relatos sobre sua caminhada no movimento indígena e a frente do Núcleo Estadual da Juventude, como a participação na Cop-28, onde esteve ao lado de grandes Lideranças.

Eu acredito que a nossa experiência serve de motivação para outros jovens, assim também como eles nos inspiram, e esse momento é de fortalecimento para todos, aqui também é um espaço de formação de lideranças. E com isso, quero dizer para vocês jovens não desistam dos sonhos, façam sua própria história e sejam inspiração para os demais”, pediu a coordenadora

Raquel Wapichana em roda de conversa com os jovens – ASCOM/CIR

Gessika Macuxi, também compartilhou as vivências, como vice-coordenadora regional da juventude e comunicadora Indígena da Rede Wakyaa,” estou pela segunda vez, sou grata pelo convite, estou aqui aprendendo com vocês, porque os desafios são grande enquanto juventude, mas, estou seguindo a caminhada”, disse a jovem.

Ao final foram entregues as lideranças, bolsas e colares feitos pelas mulheres e jovens da comunidade Sucuba, região Alto Cauamé, os informes das atividades do Núcleo estadual da Juventude a nível regional e estadual também foram passadas.