Ampliada encerra com ato de resistência e aprovação de propostas

Com feixe de vara, símbolo de união e resistência dos povos indígenas, a II Reunião Ampliada do Conselho Indígena de Roraima (CIR), encerrou nesta quinta-feira(7), com ato de resistência em defesa dos direitos indígenas, além de aprovações de propostas no âmbito territorial, saúde, educação e sustentabilidade.

A Ampliada com o tema “Retomando Nosso Território para Garantir a Vida no Planeta”, ocorreu ao longo de três dias,5 a 7, reunindo conselheiros, lideranças indígenas e convidados, na comunidade indígena Arapuá, terra indígena Arapuá, município de Alto Alegre. Um território de luta, resistência e de conquista.

No último dia, o assessor jurídico do conselho Indígenas de Roraima (CIR), Ivo Makuxi , abordou a avaliação sobre o Marco Temporal e análise do veto presidencial. Alertou que a bancada ruralista tenta derrubar o veto, previsto para ser apreciado no Congresso Federal, no próximo dia 14.

São desafios que nós temos perante o Estado Brasileiro. Diante desses ataques, onde tentam tirar os nossos direitos que são originários”, expressou Makuxi.

Ivo Makuxi – (Foto: Ascom/CIR)

Os casos das terras indígenas, com pedidos de demarcação e reestudo da terra, também foram abordados. Entre as terras indígenas citou Arapuá,Tabalascada, Jacamim, Serra da Moça, e outras. Lázaro Wapichana, tuxaua da comunidade indígena Pium, terra indígena Manoá Pium, região Serra da Lua, relatou que as áreas próximas a comunidade estão desmatadas para plantação de grãos.

Isso é muito triste para nós, vê nossos caimbés, mirixis, nossa área de onde tiramos nosso sustento, ser destruída pelos fazendeiros para plantar grãos”, disse Wapichana.

Tuxaua Lázaro durante as votações da Ampliada Deliberativa 2023 (Foto: Ascom/CIR)

O Conselho Indígena de Roraima(CIR), é um marco histórico, símbolo de luta e resistência, que conta com apoiadores como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que participou da mesa com a presença da coordenadora regional, Gilmara Fernandes. Fernandes parabenizou as ações do CIR,em prol da defesa dos direitos indígena, citando como exemplo as mobilizações contra o Marco Temporal e Acampamento Terra Livre (ATL), que além do CIMI, contou com apoio de outras instituições parceiras.

“As ações que vocês fazem nas bases, são essenciais para o fortalecimento da luta, para mudar o cenário que existe em Roraima, e principalmente da autonomia e sustentabilidade aos povos indígenas”, considerou Gilmara.

A situação do povo Yanomami, relatada por Júnior Hekurari, não é nenhuma novidade. Há muito tempo, o presidente da Urihi denuncia o descaso com a saúde e a segurança territorial Yanomami em decorrência da invasão dos garimpeiros ilegais que voltam a todo vapor.

“A Urihi, está sem apoio, contamos com apoio do Cir que entregou ferramentas,meus parentes fizeram muita roça. Mas, ainda estamos em vulnerabilidade, em agosto estive na comunidade, tirei fotos, e trouxe comigo crianças em estado de desnutrição”, disse Júnior.

Júnior Hekurari (Foto: Ascom/CIR)

O vice-coordenador da Coiab, Alcebias Constantino falou das incidências que participou em Brasília e outros estados, defendendo os direitos originários. Ele também explicou sobre os desafios, que ainda podem ser enfrentados pela falta de apoio no congresso nacional.

Precisamos ser fortes meus parentes, no congresso a maioria são a favor do Marco Temporal e do agronegócio. E não temos mais a deputada Joenia Wapichana para nos defender”, afirmou Sapará.

Há cinquenta anos, os povos indígenas de Roraima, não tinham educação e saúde diferenciada, conquistado graças a luta e união de todos, conforme ressaltou Edinho Batista coordenador geral do CIR.

Para continuar conquistando os nossos espaços,precisamos estar firmes nas bases, um exemplo foram as mobilização que não pedimos nada do governo, e cada vez mais mostra nossa força e união”, concluiu o coordenador.

Os alunos do Centro Indígena de Formação Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), também estiveram na Ampliada, apresentando as atividades desenvolvidas no local, com a finalidade de formar novas lideranças indígenas. Todo conhecimento adquirido no no Centro são levados para base.

Alunos do CIFCRSS (Foto Ascom/CIR)

Atualmente, o CIR, tem feito incidências nos Ministérios de Educação (MEC), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Secretaria Estadual de Educação, para buscar fortalecimento ao local, como a reestruturação do Centro e a aprovação do Plano Pedagógico (PP), e o direito ao diploma, para uma educação diferenciada, símbolo de luta e resistência.

O Brasil é terra indígena, afirmou o vice-coordenador do CIR, Enock Taurepang, e ressaltou que é preciso continuar lutando pelos direitos à vida e ao território, e não baixar a cabeça diante das intimidações e dificuldades.

Ao final os conselheiros aprovaram as datas da primeira ampliada de 2024, sendo realizada na comunidade indígena Arapuá no mês de Julho, e
15 de março assembleia extraordinária para reformular o Estatuto social do CIR.

Além disso, aprovaram deliberação, como formação de cineastas indígenas, e apoio aos comunicadores, GPVTI, Centro de Formação e os operadores de direito, e ao fundo indígena Rutu. Também aprovaram incidências em Brasília contra os projetos de leis que violam os direitos indígenas, apoio ao povo Yanomami e outras ações.

(Foto: Ascom/CIR)

Aprovaram a carta final da II Ampliada contendo apoio à demarcação da terra indígena Arapuá, reforçando os demais pedidos existentes em Roraima, e demais contextos no âmbito local, regional e nacional.

Edinho Batista, coordenador geral do CIR, agradeceu a todos pela presença naquele território sagrado.