Terra Indígena Pium sofre terceiro ataque, tem casas derrubadas e incendiadas

A comunidade Pium, Terra Indígena Pium, região Tabaio, localizada no município de Alto Alegre ainda nem superou a violência que sofreram e já sofreram outro ataque na madrugada do dia 4 de junho de 2022. Novamente destruíram e incendiaram casas, barracão comunitário que estavam sendo construídos para receber uma reunião com lideranças de todas as regiões. Essa já é a terceira vez que acontece esse tipo de ato. A primeira vez foi em 1º de dezembro de 2021 e o segundo em 20 de maio deste ano quando derrubaram a casa de uma professora da comunidade.

Todo um trabalho de meses feito pelos moradores e lideranças, resumido em fogo, fumaça e cinzas. Foto: Ascom CIR

De acordo com relatos de lideranças, o ataque ocorreu durante a madrugada, por volta das 4 horas. Os jagunços utilizaram tratores para derrubarem as casas e em seguida incendiaram. Ninguém ficou ferido, já que não havia ninguém da comunidade no local. Não se sabe também se os invasores estavam armados.

Os fazendeiros estão usando estratégias antigas para isso. Estão entrando na justiça, que costuma acreditar primeiro no direito dos brancos, com ações de Reintegração de Posse. Os fazendeiros dizem que a terra é deles. A questão é que a única “prova” que eles têm sobre a “propriedade” que eles dizem ter, são contratos de branco para branco chamados de “Concessão de Direitos de Uso”, ou seja, ninguém tem título de propriedade definitivo.

O coordenador geral do CIR, Edinho Macuxi, esteve acompanhando de perto o fato ocorrido na TI Pium. Foto: Ascom CIR

Ao tomar conhecimento dos fatos, o coordenador geral do CIR, Edinho Macuxi, esteve no local do ataque e destacou que está acompanhando mais esse ato de vandalismo contra a comunidade indígena do Pium. Porque o barracão comunitário que estava sendo construída foi queimada e que de fato não há justificativa para isso.

“Pois tudo isso é crime, é violência e entendemos isso com um ato de exterminação. Mas quero dizer para a sociedade, para o Brasil e os governantes, que esse povo aqui não vai se calar e nem se render, porque esse território aqui é dos povos indígenas. Isso não ficar barato e temos que tomar as devidas providências. Se a justiça não for feita, nós iremos fazer. Porque não iremos mais admitir que continue ocorrendo essa onda de violência, desde dezembro de 2021 e agora se repete mais uma vez esse ato. A comunidade repudia esse tipo de ato e é contra esse fazendeiro que vem cometendo esse tipo injustiça. Mas estamos juntos na luta e o povo vai resistir. Temos a certeza que essa vitória será nossa, vamos continuar firmes e fortes na luta, o povo continua se organizando e unido. Esse território é nosso e será ocupado por essa e outras gerações no futuro”, disse.

Tratores derrubaram casas e postes onde seriam instaladas uma rede de energia. Foto: Ascom CIR

De acordo com uma liderança da região, disse que foram dois tratores e uma caminhonete que foram usados para derrubar o barracão que estava sendo construído para receber eventos regionais. 

“Eles além de derrubarem nosso patrimônio, que era o nosso barracão comunitário, também queimaram outras casas de pessoas que foram construídas aqui. Nós não aceitamos esse tipo de crime dentro da nossa comunidade, desde o dia 1º de dezembro de 2021 que vivemos com essa situação, principalmente com ameaças. Estão achando que são os donos do mundo em chegar aqui e fazer isso com a gente. Estamos muito revoltados, mas também em pânico por conta dessa violência”, afirmou a liderança.

Na comunidade Pium, vivem famílias dos povos Macuxi, Wapichana e Sapará. A Terra Indígena possui 4.607,61 hectares e aproximadamente 500 pessoas. Apesar do pouco espaço, há anos as lideranças vêm denunciando as invasões e agressões violentas, como essa da destruição das moradias dos indígenas.

Pium é uma das terras indígenas de Roraima que teve a área demarcada nos anos 80 pela Fundação Nacional do Índio (Funai), na ditadura militar. Durante o processo de identificação e delimitação teve a área diminuída após grande pressão de posseiros que invadiram a terra indígena. Por conta disso, há um pedido de reestudo da área demarcada protocolado na FUNAI desde o ano de 2000. Desde então, lideranças e moradores lutam pela retomada do território que faz parte da comunidade.充气水滑梯

AUDIÊNCIA NO MPF

Lideranças tiveram uma audiência no MPF com o procurador da república, Alisson Marugal. Foto: Ascom CIR

Na tarde desta segunda-feira, 06 de junho de 2022, 16 lideranças da Terra Indígena Pium e de outras comunidades da região Tabaio, protocolaram um documento no Ministério Público Federal (MPF). O procurador da república, do 7º Oficio, Alisson Marugal, foi quem recebeu os documentos.

A assessoria jurídica do CIR, que acompanhou a comitiva de liderança no MPF para denunciar os ataques, reforçou que acionará outros órgãos incumbidos para garantir o direito da comunidade Pium e que os culpados e mandantes sejam responsabilizados pela justiça.

As lideranças relataram ao procurador que não aguentam mais tantas violências que vem sofrendo no decorrer dos tempos. Que o território, as matas, os igarapés são importantes, pois é de onde colhem a medicina tradicional e são meios de sobrevivência dos povos indígenas.