“Queremos fortalecer cada vez mais as mulheres nas bases”, ressalta a nova secretária do Movimento de Mulheres do CIR, Kelliane Wapichana

Filha da Serra da Lua e do território tradicional, Canauanim, Kelliane Cruz, do povo Wapichana, há um mês à frente da Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas, instância que compõe a coordenação do Conselho Indígena de Roraima(CIR), em entrevista, falou à assessoria de Comunicação da organização, das ações executadas desde a gestão anterior, dos planejamentos junto às mulheres regionais, dos desafios e das conquistas de espaço.

A gestora territorial, Kelliane, graduada pelo Instituto Insikiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR), também foi professora, atuando em duas comunidades indígenas, Jabuti e Alto Arraia, ambas na sua própria região. “ Nunca sai do foco do movimento indígena, sempre estive nas comunidades, acompanhando as reuniões, assembleias e as lideranças, como Clóvis Ambrósio, uma referência de luta”, disse Kelli, ao mencionar uma das lideranças pioneiras do movimento indígenas, especialmente, da luta pela saúde indígena específica e diferenciada, além de ser um dos fundadores do CIR.

 

Posse de Kelliane, Celebração de 50 anos do CIR

Ao destacar os seis anos de atuação da ex-secretária, Maria Betania Mota de Jesus, Kelliane pontuou projetos executados e que deram certo nas comunidades, como bovinocultura, corte e costura, avicultura, artesanato, além das palestras e eventos de conscientização. Sobre as palestras de conscientização da violência contra a mulher, Kelli ressaltou que é uma iniciativa importante para sentir como as mulheres estão em seus territórios. “ É um desafio ser mulher e muito mais, ser uma liderança mulher”.

Há um mês à frente da Secretaria, Wapichana falou dos planos que estão sendo construídos junto com as mulheres regionais. Citou a realização do primeiro encontro estadual para traçar estratégias, planos e fortalecimento das mulheres indígenas. A data ainda não foi definida.

Na última sexta-feira, 14, houve um encontro das coordenadoras regionais e a coordenação da Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), na sede da organização, em Boa Vista, onde discutiram planos e ações coletivas.

 

Reunião com coordenadoras regionais de mulheres, lideranças tradicionais e jovens

A Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), é uma forte aliada e parceira nas ações voltadas às mulheres indígenas do Estado. Para a Secretária, fortalecer essa parceria “é essencial para ampliar cada vez mais o apoio às mulheres nas bases”.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) atua em 263 comunidades e 10 regiões no Estado, Serras, Surumu, Baixo Cotingo, Raposa, Amajari, Wai-Wai, Tabaio, Serra da Lua, Murupu e Alto Cauamé e uma população em torno de 30 mil indígenas. Nos primeiros dias de trabalho, Kelliane visitou quatro regiões, Wai-Wai, Serra da Lua, Surumu e Amajari, para acompanhar as atividades das mulheres regionais.

Ao ser indagada sobre as prioridades da secretaria, Kelliane ressaltou que, além da luta pelos direitos, um dos desafios é “fortalecer as mulheres indígenas nas bases, tanto no contexto das ações e projetos, mas também na busca pelo empoderamento e encorajamento das mulheres para ocupar os espaços”.

Em relação aos desafios e os espaços conquistados na atual conjuntura do movimento indígena brasileiro, como a presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), presidida por Joenia Wapichana, o ministério dos Povos Indígenas, com Sonia Guajajara e em Roraima, a coordenação regional, Marizete de Souza, Cruz reforçou que são conquistas não só das mulheres, mas dos povos indígenas, sobretudo das lideranças que tanto lutaram por esses espaços. Uma luta conjunta.

“Só de ter representatividade dessas mulheres nesses espaços, já é de fato uma grande conquista. Isso é conquista para os povos indígenas, porque são espaços conquistados com o resultado da luta do movimento indígena, sobretudo das lideranças indígenas que tanto lutaram”, reforçou Kelli.

 

Visita a coordenadora regional de mulheres indígenas

Eleita na 52ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas de Roraima, no mês de março, no Centro Regional Lago Caracaranã, Kelliane também representa a conquista da juventude indígena. Aos 31 anos, alcança espaço em uma das organizações indígenas mais antigas do Brasil, o Conselho Indígena de Roraima, que completou 50 anos. Um espaço que representa a luta, união, resistência e conquista do movimento indígena de Roraima.

Do seu mais novo ambiente de trabalho, uma sala decorada com artesanatos e exposições de medicados tradicionais, fruto do trabalho das mulheres regionais que tiveram a iniciativa de fortalecer a medicina tradicional na época mais dura da luta pela vida, em 2020, quando começou a pandemia da Covid-19, além do feixe de vara, símbolo de união dos povos indígenas, Kelli, originária de Roraima e da Amazônia, deixou uma mensagem às mulheres indígenas do Brasil. O empoderamento começa quando se tem a base fortalecida, por mulheres homens, jovens e crianças assim como o exemplo do feixe de vara.

“Estamos em constante evolução, e nós mulheres somos fundamentais nesse processo de construção e descolonização de mentes, trazemos em nossas raízes uma história de resistência e resiliência perante ao cenário político voltado aos povos indígenas. Hoje temos autonomia para falar por nós mesmas, a cada dia ocupamos espaços que são fundamentais nessa nova gestão, temos pela frente a luta e retomada dos nossos territórios e muitos desafios estão à espreita. É um momento de abraçarmos a mesma causa, de fortalecer o que já temos, e faço um chamado para você apoiador da causa para somar conosco nessa luta coletiva pelo bem viver de todos”, expressou..

Entrevista com a Jornalista Mayra Wapichana