Com ausência do governo federal, lideranças decidem reativar postos de monitoramento para barrar aumento de invasões na TI Raposa Serra do Sol

Neste sábado (9), último dia da Assembleia Extraordinária da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, mais de 100 lideranças indígenas, entre Tuxauas, coordenadores regionais, mulheres, professores, agentes de saúde indígena, grupo de proteção, vigilância e territorial, e demais participantes, debateram sobre proteção e monitoramento da terra indígena, destacando as ameaças e invasões, que vem aumentando no território.

Os coordenadores das quatro regiões que compõem o território Raposa Serra do Sol, Serras, Surumu, Baixo Cotingo e Raposa, e demais lideranças, relataram o avanço das invasões, como o garimpo ilegal, a permanência e entrada de não indígenas, bebida alcoólica, turismo sem consulta às comunidades indígenas, poluição do meio ambiente e recursos naturais, e outras invasões.

A mesa foi composta pelos coordenadores regionais e a assessoria jurídica do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que informou sobre os processos referentes aos casos da terra indígena, principalmente os casos de violência, empreendimentos sem consulta, crimes ambientais, monoculturas com uso de agrotóxicos e outras preocupações.

Assessores Juridicos do CIR, Junior Nicácio, Fernanda Felix, Ivo Macuxi

Lideranças Indígenas da T.I Raposa Serra do Sol

Um dos casos é referente às violências contra os povos indígenas durante o processo de demarcação e homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol, que tramita na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Os povos esperam que o Estado brasileiro seja responsabilizado pelos casos, como o ataque aos 10 Irmãos como ficou conhecido, incêndio do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), destruição das comunidades Homologação, Retiro Tai-Tai e Jawari, e outros, até hoje impunes.

Durante o debate, as lideranças cobraram do governo federal ações efetivas de proteção, fiscalização e monitoramento da terra indígena, que mesmo homologada, continua sem atenção do Estado brasileiro. Diante dessa ausência, as próprias comunidades relataram suas iniciativas de proteção, como a criação do Grupo de Proteção, Vigilância e Territorial indígena (GPVTI), que atua, incansavelmente, pela proteção do território.

Coorenador da T.I Raposa Serra do Sol José Arizona
Liderança Tradiconal Ivaldo André, Macuxi
Coordenador Geral do CIR, Edinho Macuxi

 

Momento de deliberações Assembleia Extraordinária 

Outro destaque foi a sustentabilidade das comunidades indígenas, afetadas em decorrência das mudanças climáticas. Embora haja produtividade em algumas áreas, mas a falta de produção devido à seca, também preocupa as lideranças indígenas.

Após avaliação e debate sobre as questões internas e externas das comunidades indígenas, as lideranças aprovaram como deliberações, a reativação dos postos de fiscalização e monitoramento unificado na TI Raposa Serra do Sol.

Depois de quase 20 anos de homologação, a Assembleia Extraordinária da TI Raposa Serra do Sol, consiste em um espaço de debate, avaliações das ações e deliberações coletivas, mas também de reafirmação da luta pelo território que durou mais de 30 anos, e hoje, consolidado como um território legítimo e originário dos povos indígenas Macuxi, Wapichana, Taurepang, Patamona e Ingarikó.

O evento foi realizado pelas lideranças, como o apoio do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Fundação Ford e Nia Tero.

Lideranças celebram a finalização da Assembleia e o lançamento do Protocolo de Consulta

 

Fotos: Nailson Almeida/ Rede Wakywaa e Coiab