“Não somos contra o desenvolvimento. Queremos ser consultados”, dizem lideranças em evento de REDD e mudança climáticas

Nas deliberações finais do seminário sobre REDD e mudanças climáticas, nesta quinta-feira (14), lideranças indígenas afirmaram não serem contra o desenvolvimento de Roraima, mas querem respeito ao direito à consulta prévia, livre e informada. O evento “Conhecendo as Estratégias de REDD do estado de Roraima no Enfrentamento às Mudanças do Clima”, ocorreu nesta semana, 12 a 14, em Boa Vista.

Somos nós que sentimos as consequências das mudanças climáticas”, afirmou Vanderlei Pereira, coordenador do GPVTI da região Serra da Lua, durante o debate no último dia do seminário.

Vanderlei Pereira, coordenador do GPVTI da região Serra da Lua – (Ascom/CIR)

As vivências enfrentadas pelas diversas regiões e comunidades Indígena em meio às mudanças climáticas, ou transformação do tempo, como costumam falar foram compartilhadas pelas lideranças. Os fatos envolvem, desde as fortes secas, chuvas de granizos, ventanias fortes, perdas de roças e igarapés.

Lideranças que participaram da oficina – (Ascom/CIR)

No seminário os participantes expressaram insatisfação, sobre os desmatamentos em áreas próximos às comunidades indígenas, para o cultivo de soja, onde é perceptível a destruição de pés de caimbé e mirixis, afetando ainda mais o clima, e poluindo o ar e os igarapés.

“Por mais que tenha licenciamento, é preciso respeitar os direitos dos povos indígenas. Não somos contra o desenvolvimento do estado, mas, tem que ser um desenvolvimento sustentável com respeito aos territórios indígenas”, ressaltou Sineia do Vale, durante a plenária de apresentação sobre a construção da estratégia de REDD do Estado de Roraima.

O debate contou com a participação da diretora de Pesquisa, Tecnologia e Gestão Ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Roraima( FEMARH), Luana Tabaldi.

O líder e vice-coordenador da região Serra da Lua, Clóvis Ambrósio,do povo Wapichana, também reforçou que o direito à consulta aos povos indígenas têm sido violados pelo governo do Estado. Citou como exemplo, o projeto de grãos implantados nas comunidades indígenas..

Quando os representantes dos órgãos do governo chegam nas nossas comunidades, eles não querem nos ouvir, eles querem apenas que escutemos eles, depois dão papeis para nós assinar com propostas prontas, e isso não é consulta” afirmou o vice – coordenador.

Representante da Rainforest da Noruega/Igor Ferreira – (Ascom/CIR)

No último dia de seminário, os participantes puderam aprender ainda mais sobre salvaguardas (medidas defensiva e de proteção ) e créditos de carbono (concedidos a projetos que diminuem a emissão de gases de efeitos estufa). Esses assuntos foram abordados pelo representante da Rainforest da Noruega, Igor Ferreira.

“Participo pela segunda vez dessa formação, explicando as lideranças sobre o Mercado de Carbono. Fico feliz em contribuir com os povos indígenas de Roraima”, concluiu Igor.

Valério Eurico,do povo Macuxi, coordenador da região Raposa participa da formação desde o início, e afirmou que o aprendizado tem sido importante e vai compartilhar na base.

Quero agradecer pela oportunidade, desde o primeiro curso eu estou presente, e tenho sentido na região os efeitos da mudança climática. Aqui, aprendemos muito e vou levar mais essas informações para minha região, compartilhar com a juventude”, finalizou Eurico.

Sineia do vale, explicou que o seminário foi um momento importante para todos, um espaço de fala para as lideranças, que contribuíram com seus conhecimentos.

Hoje estamos aqui, falando sobre todo esse cenário que estamos vivendo, as mudanças climáticas têm atingido não só os povos indígenas,os demais também são afetados. Falando de parente para parente fica mais fácil o entendimento, essa é só uma parte”, afirmou Sineia já adiantando que em 2024, terão mais informações e formações.

Ao final, as lideranças deliberaram que a próxima oficina sobre Mudanças Climáticas, será realizada no mês de fevereiro nas regiões. Também foi proposto convidar representantes do Ministério Público Federal(MPF) e FUNAI.