Sustentabilidade: comunidade indígena Anzol na região Murupu fortalece produção orgânica utilizando sistema de energia solar

Em tempo de mudanças climáticas e a constante dificuldade das comunidades indígenas de abastecimento de água e até a seca de rios e igarapés, prejudicando, principalmente a produção orgânica, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) através do departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA), desenvolve o Projeto Piloto de “Captação de água por energia renovável”, em parceria com a Agência Católica para o Desenvolvimento (CAFOD).

Trata-se de um projeto que tem sido importante para a melhoria de vida e o fortalecimento da sustentabilidade das comunidades indígenas de Roraima. A comunidade Anzol, na região do Murupu, é uma das comunidades indígenas em Roraima beneficiada com a iniciativa.

Plantação de Feijão – (Foto: Ascom/CIR)
Lideranças da região Murupu – (Fotos: Ascom/CIR)

Roraima possui dois grandes potenciais energéticos, o sol e o vento. A alternativa utilizada no projeto para captação de energia e o funcionamento do sistema de irrigação é o sol. São 8 placas solares instaladas para a geração de energia, utilizada, prioritariamente, para irrigação de roças comunitárias.

A comunidade indígena Anzol, uma das terras indígenas em Roraima, que reivindica a demarcação, é uma das experiências de sucesso, como contou o engenheiro agrônomo indígena, Giofan Mandulão, do povo Macuxi, que atua no DGTA e acompanha a atividade. Recentemente, a equipe visitou a comunidade e conferiu os resultados positivos da ação.

“É um sistema simples, mas que dá um resultado muito satisfatório. A gente tem uma bomba de 220 que fica atrelada ao poço, e esse poço fica conectado ao igarapé anzol e não seca, e faz essa demanda de irrigação para roça comunitária que é irrigada todos os dias”, ressaltou Mandulão.

A coordenadora local de mulheres, Luzileiser Duarte Brito, ressaltou a satisfação da comunidade com os resultados alcançados até o momento. O resultado positivo beneficia 18 famílias e um total de 56 pessoas. Animada com o resultado, a coordenadora disse que, junto com as demais mulheres da comunidade, pretendem cultivar pimenta e banana.

“Nossos planos é plantar pimenta e banana. A pimenta porque faz parte da nossa cultura, colocamos na damurida e quanto a banana porque além de comer, também podemos vender para ajudar na renda da família”, ressaltou Luzileiser.

A captação de água utilizando energia sustentável e o cultivo de alimentos são estratégias para garantir a sustentabilidade da comunidade e preservar o meio ambiente, sem usar nenhum tipo de agrotóxico.

No primeiro ano foram plantadas 15 linhas de milho e 30 linhas de feijão. Na roça, o jovem Thiago Brito, do povo Macuxi, que acompanha o projeto desde o início, era quem colhia os feijões verdes, resultado de dias dedicados ao cuidado com as plantações. Para ele, a irrigação ajudou no cultivo e é importante para manter o trabalho coletivo que beneficia a todos.

Placas Solares – (Fotos: Ascom/CIR)

“O projeto de irrigação é importante para nós, beneficia todas as famílias. Hoje eu estava colhendo feijão, mas, cada um tem sua parte para colher, eu acompanho o projeto desde o início e isso é muito gratificante para nós” afirmou o jovem.

Essa é a primeira colheita, o próximo passo é aumentar o plantio incluindo macaxeira, abóbora e maxixe. No início, o projeto era voltado para os jovens, mas, depois virou comunitário, conforme explicou a Tuxaua da comunidade, Delwekelenson Bezerra.

“É a primeira colheita do projeto que no início foi dedicado aos jovens, e depois virou comunitário, onde uma parte da roça foi limpa para iniciar a plantação”, concluiu o tuxaua.

No entanto, o projeto é uma forma de ajudar a comunidade indígena Anzol a enfrentar os desafios adicionais, já que sua terra ainda não é demarcada. Com aproximadamente 2 mil hectares, uma das principais lutas da comunidade Anzol é a demarcação. Sem isso, não podem pescar, caçar, e principalmente, andar livremente no território.

“A luta é constante no território, ficamos fora da demarcação da terra indígena Serra da moça, temos a proibição da caça e pesca, nós ficamos limitados ao acesso às fontes de água como rio, lago e igarapés, a comunidade tem cerca de 2 mil hectares, mas sem fonte de água. E ainda tem a expansão de soja, que tem nos afetado”, desabafou a liderança.

O projeto piloto que usa energia solar e práticas sustentáveis, também é desenvolvido na comunidade indígena Truaru da Cabeceira. Iniciativa que dá autonomia aos povos indígenas.