Organizações indígenas, indigenista e instituições públicas debatem estratégias de fortalecimento da juventude indígena

No terceiro dia da Assembleia Estadual da Juventude Indígena de Roraima, os jovens debateram sobre as estratégias de fortalecimento da juventude indígena, com a presença das organizações indígenas, entidades sociais e instituições públicas. O evento ocorre na comunidade indígena Pium, terra indígena Manoá-Pium, região da Serra da Lua, município de Bonfim.

Participaram da pauta, o vice-coordenador do Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira ( Coiab), o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista, a secretária do Movimento de Mulheres Indígena, Kelliane Wapichana, a coordenadora regional da Funai/RR, Marizete de Souza, o representante do Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste), Daniel Sampaio, e a coordenadora do CIMI Norte, Gilmara Fernandes.

A Coiab atua em nove estados da Amazônia, com 180 povos, em uma extensão territorial de mais de 5, 2 milhões de hectares.

O vice-coordenador, Alcebias Constantino, do povo Sapará, foi o primeiro coordenador do Núcleo da Juventude Indígena de Roraima e hoje, atua em uma das maiores organizações indígenas do Brasil.

Desde 2022 no cargo, Alcebias informou sobre as ameaças aos territórios indígenas, como a mineração, garimpo ilegal e outras explorações, como consequência da aprovação do marco temporal no Congresso Nacional e até no Supremo Tribunal Federal (STF), quando o marco temporal foi derrubado, mas as condicionantes ficaram.

Ao falar sobre a incidência política da organização na defesa dos direitos indígenas, Constantino fez um chamado à juventude. ” Que vocês possam assumir essa caminhada”, chamou a juventude para fortalecer a luta do movimento indígena.

A primeira indígena coordenadora regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Roraima, Marizete Macuxi, também compôs a mesa. A coordenadora destacou a luta do movimento indígena, especialmente a luta da juventude, informou sobre os desafios na gestão do órgão indigenista, e o compromisso da Funai na defesa dos direitos dos povos indígenas.

Falou do fortalecimento da juventude, do compromisso e responsabilidade de assumir a luta. ” É importante que vocês tenham o conhecimento dos direitos dos povos indígenas e possam assumir junto com a comunidade a proteção dos territórios”, considerou. “A responsabilidade está nas mãos de vocês, jovens”, completou.

Fotos : Ascom / cir 

Outro setor público que hoje tem a gestão indígena é o Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima ( Dsei-Leste/RR), com o coordenador Zelandes Patamona.

Na Assembleia, o representante do Dsei-Leste, Daniel Sampaio, repassou informes da atual gestão, relacionados ao atendimento de saúde nas comunidades indígenas. São 38 Pólo base, 347 comunidades e uma população de 61 mil indígenas.

Pontuou que um dos desafios da gestão é o recurso financeiro para atender as demandas das comunidades, mas ressaltou a expectativa do próximo ano ter aumento.

“A expectativa é que para 2024 haverá um aumento de recursos para fortalecer as ações de políticas públicas “, informou. Também manifestou preocupação com alto índice de suicídio entre os jovens indígenas.

Informou sobre as entregas das Unidades Básicas de Saúde (UBS), construídas com recurso de emenda parlamentar destinada pela ex-deputada federal Joenia Wapichana. Além das UBS, também estão adquirindo equipamentos e suprimentos de atendimento à saúde.

Trazendo o cenário local, regional e nacional da questão indígena, também participou da mesa, a coordenadora regional do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Gilmara Fernandes, que atua em Roraima e Amazonas.

Gilmara fez um breve panorama sobre os últimos ataques aos direitos indígenas, como a aprovação do Projeto Lei 2.903/23, aprovado no Congresso Nacional. ” Esse projeto é muito nocivo aos direitos dos povos indígenas, abre para várias explorações, mineração, hidroelétricas, arrendamento, e outras explorações”, pontuou.

Ressaltou que o marco temporal foi derrotado no Supremo Tribunal Federal (STF), graças à luta do movimento indígena. Ao reafirmar o compromisso com a luta dos povos indígenas, Fernandes reforçou que os jovens são importantes para o movimento indígena.

“Vocês são muito importantes para o movimento indígena. Vocês são sementes dessas lideranças, que lutaram por direitos e territórios”, afirmou. ” A juventude é a potência do movimento indígena”, afirmou.

O coordenador geral do CIR, Edinho Batista, ao refletir sobre o processo de tentativa de extermínio dos povos indígenas, reforçou que o movimento indígena de Roraima sempre foi referência para o Brasil. ” Somos referência para o Brasil pela forma que defendemos os nossos territórios”, afirmou.

Refletiu também que ” a maior estratégia do movimento indígena é nunca desistir. O movimento da juventude foi criado para fortalecer essa luta”.

Diante das ameaças como o garimpo ilegal, expansão da soja, hidroelétrica, arrendamento e outras, Batista ressaltou que é preciso reestruturar o movimento para enfrentar essas ameaças. ” Somos testemunhas de resistência há mais de 523 anos. Nunca conseguiram nos vencer, porque foi a união, a fé e a coragem que sempre nos manteve vivos”, concluiu.

Fotos : Ascom/Cir

Nesta quinta-feira (12), foi celebrado o Dia das Crianças. Em um simbólica demonstração do futuro das representações indígenas nos espaços, a secretária do Movimento de Mulheres Indígena, Kelliane Wapichana, organizou uma homenagem às crianças.

Ao entrarem no malocão “José Farias”, Kelliane falou da importância de continuar a luta das lideranças indígenas, simbolizada no “feixe de vara”. ” Importante ver cada um de vocês ocupar esse espaço. Vocês carregam a força da natureza”, disse.

“Temos vários exemplos de líderes que passaram e conseguiram. Você está nessa sala de aula. Carrega o legado”, refletiu sobre a presença de jovens nos espaços no contexto de movimento indígena.

Falou do fortalecimento das mulheres indígenas que estão na retomada, atuando na saúde, educação e demais setores públicos, como a Funai, com a primeira indígena coordenadora regional do órgão indigenista.

“A nossa união faz toda a diferença. Vamos nos fortalecer e não perder a nossa essência de luta “, afirmou.

A Assembleia segue para o último dia, aguardando a presença da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.