Fundo Jamaxim: CIR e FOIRN trocam experiência para fortalecer e consolidar iniciativa dos povos indígenas de Roraima

O “Fundo Indígena Jamaxim” dos povos indígenas de Roraima, que na língua Macuxi é chamado ” Rutu”, ganha força e  avança para sua consolidação, com a reunião institucional entre duas grandes organizações indígenas da Amazônia, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), realizada nesta segunda-feira(9), na sede do CIR, em Boa Vista/RR.

O Fundo Jamaxim é uma iniciativa do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e suas comunidades membro, que foi aprovada na I Reunião Ampliada, realizada no mês de julho, na comunidade Pium, na terra indígena Manoá-Pium. Com a  aprovação das lideranças, inclusive o nome do fundo, a organização busca mecanismos para consolidar a proposta, em processo de construção desde 2020, de forma coletiva e com a realidade econômica e sustentável das comunidades indígenas de Roraima.

São roças comunitárias, projetos de gado, peixe, aves, produtos agrícolas orgânicos, além da variedade de artesanatos indígenas, que movimentam a economia local e regional.  O ” Jamaxim”,  terá a missão de acolher todas essas potencialidades econômicas, sustentáveis e culturais dos povos indígenas de Roraima, bem como de fortalecer a autonomia, o protagonismo e a sustentabilidade das comunidades.

O nome “Jamaxim” faz referência ao cesto tradicional, feito de fibra de buriti, utilizado nas atividades comunitárias, para carregar diversos tipos de materiais de trabalho, alimentos e outros produtos.

Particpantes durante apresentação das atividades das instituições      Fotos: Ascom/Cir

Durante a reunião, houve a troca de informações e experiências das iniciativas de fundo indígena. O agrônomo indígena, Giovan Mandulão, do departamento de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), um dos técnicos  que integra o grupo de trabalho de elaboração da proposta, fez uma breve apresentação destacando que a construção buscou valorizar as potencialidades, principalmente agrícolas e bovinocultura, já existentes nos territórios indígenas.

Um fundo pensado por nós indígenas”

Para o vice-coordenador, Enock Taurepang, que acompanha a iniciativa desde os primeiros passos da construção, ressaltou que a reunião foi um diálogo, uma conversa de ” parente para parente”, um fator fundamental para a efetivação de uma iniciativa construída pelos próprios indígenas.

“Estamos falando de parente para parente, de organização indígena para organização indígena sobre o fundo indígena. Fundo que irá atender as comunidades indígenas, fundo que trará benefícios para as famílias, comunidades e as regiões. Um fundo que é pensado por nós indígenas, pelas lideranças e que trará com toda certeza, um fortalecimento econômico para dentro dos nossos territórios”, ressaltou com ânimo e acreditando no potencial da iniciativa.

Para fortalecer e contribuir com a iniciativa de Roraima, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), trouxe a sua bagagem de experiência com o Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN), já existente na região, atendendo 23 povos indígenas, mais de 100 comunidades indígenas e uma região com mais de 13 milhões de territórios indígenas. A coordenadora do FIRN, Josimara Oliveira Baré, fez a apresentação da iniciativa desde o processo de elaboração, execução e resultados.

Presente no encontro, o presidente da FOIRN, Marivelton Baré, reforçou que a vinda a Roraima foi para fortalecer as duas iniciativas, principalmente dos povos indígenas de Roraima que avançam na consolidação, focada no fortalecimento da sustentabilidade.

” Uma é a pauta de criação de fundo indígena para financiamento e apoio às iniciativas de gestão territorial e ambiental das terras indígenas, desde fortalecer a sustentabilidade e atender os anseios que fazem parte do plano de gestão ambiental, respeitando sempre os protocolos de consulta”, reforçou sobre o encontro entre as duas organizações indígenas.

Aprovado em 2019, o FIRN tem como resultados 15 projetos atendidos, 7 de projetos de grupos de mulheres, 200 comunidades, mais de 2 mil pessoas e 6 terras indígenas das 13 na extensão região Rio Negro. Os projetos são voltados à cultura, segurança alimentar e economia sustentável.

Ressaltou também a iniciativa do turismo, que já é realizado na região do Rio Negro, apontada como outra alternativa econômica, sustentável e de proteção territorial.

Uma das principais referências de construção do Fundo Indígena Jamanxim são os Planos de Gestão Territorial e Ambiental ( PGTA) das Terras Indígenas de Roraima, que engloba a vida da comunidade nas áreas de saúde, educação, sustentabilidade, meio ambiente, cultura e outras.

A coordenadora do departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA), Sineia Wapichana, que coordenou a construção dos PGTAs de todas as terras indígenas de Roraima, destacou que o Fundo vai fortalecer o desenvolvimento das comunidades indígenas de Roraima.

“Trata -se de um fundo onde vai fortalecer o desenvolvimento das comunidades indígenas em Roraima e todo esse trabalho que as comunidades têm feito, tem um potencial muito grande e então esse fundo vai dar autonomia para as próprias comunidades. Todo trabalho que está sendo feito, tudo aquilo que eles gostariam de fazer na linha de agricultura, pecuária sustentável, artesanato, tudo vai ser potencializado através da própria comunidade”, destacou Sineia.

Fotos : Ascom/Cir

Etnoturismo  – uma alternativa de proteção territorial, valorização cultural e alternativa econômica

Outra iniciativa de grande potencial econômico e sustentável que, a partir do I Seminário de Etnoturismo, promovido pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), no período de 5 a 7, começou a compor as pautas de debates da organização, também foi pontuado na reunião de hoje, entre as organizações CIR e FOIRN.

O coordenador do departamento Jurídico do CIR, Junior Nicacio, responsável pela organização do evento, brevemente, informou sobre a iniciativa de prestar esclarecimentos e apresentar experiências da atividade de turismo de base comunitária, tanto as que existem em Roraima quanto em outros estados, como no Rio Negro, no Amazonas.

“O primeiro momento foi esclarecer e o segundo, discutir de forma mais aprofundada de como criar”, frisou Nicácio. ” Saímos com uma boa impressão de que podemos e não trabalhar na área do turismo”, completou, reforçando que o próximo passo é levar a discussão às comunidades indígenas.

O CIR vem com o desafio de criar e implementar o fundo indígena contemplando as suas 263 comunidades, 10 regiões e 36 terras indígenas no Estado, incluindo 4 terras indígenas com pedido de demarcação.

Na Amazônia, além da FOIRN e CIR, também tem o Fundo Podáali da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Participaram do encontro, o vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Enock Taurepang, os coordenadores dos departamentos de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA), Sineia Wapichana e do Jurídico, Junior Nicacio, além do agrônomo indígena, Giofan Mandulão, do técnico em Sistema de Georreferenciamento (SIG), Genisvan André e a coordenadora da Ação  Emergencial, Vanessa Fernandes.

Direto da região Rio Negro, uma das maiores da região amazônica, participaram do encontro, o presidente da FOIRN, Marivelton Baré, a coordenadora do Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN), Josimara Oliveira Baré e o assessor técnico do Instituto Socioambiental (FIRN/ISA), João Luis, parceiro da organização na iniciativa.

Com o encamnhamento do próximo passo visitar a região do Rio Negro, conhecer as iniciativas implementadas e vivenciar o desafio de gerenciamento de um fundo indígena, o encontro, além de fortalecer as iniciativas, também fortalece a atuação política das duas organizações indígenas, referências na Amazônia, no Brasil e no mundo.