Há mais de 200 km da capital de Roraima, na região conhecida Baixo Cotingo, uma das etnoregiões da terra indígena Raposa Serra do Sol, na comunidade indígena Camará, lideranças indígenas, entre mulheres, jovens e crianças, aguardava com festividade, danças e cantos tradicionais, além da oração sagrada, a equipe do departamento de comunicação do Conselho Indígena de Roraima(CIR). A manhã ensolarada fez parte de uma recepção calorosa e festiva.
Ao tomarem conhecimento das razões e importância do nosso trabalho, dedicado a dar visibilidade, tanto interna quanto externa, com ênfase às lutas territorias e autonomia dos povos indígenas, iniciamos o nosso trabalho de registrar e contar mais uma das histórias de relevância política, social e cultural dos povos de Roraima. A coordenadora regional das mulheres, Nelia Lima, e demais lideranças daquela comunidade, foram nossas guias nesta produção.
Um dos potencias produtivos da comunidade vem da roça, local de cerca de um hectare e meio, por onde começamos a produzir nossa reportagem. Com matérias agrícolas, foice, enxadas e terçados, iniciaram os trabalhos.
Na local, conferimos os resultados do trabalho coletivo da comunidade, especialmente das mulheres. Há produção de mandiocas, milho e abóbora e outras culturas, onde boa parte serve como alimentação dos moradores de Camará.
Parte da produção sustentável da roça das mulheres, na primeira safra foram colhidos 11 sacas de milho Fotos: Ascom/CIR
As manivas, que esbanjam qualidade, foram doadas pela Comunidade indígena Canauanin, região Serra da lua, https://cir.org.br/site/2024/04/12/regioes-baixo-cotingo-e-surumu-recebem-doacoes-de-sementes-tradicionais/. Essa troca se deu a partir da perda de sementes tradicionais devido as queimadas e secas que atingiu a região no início do ano, um momento que Nelia relembrou com emoção.
” Perdemos nossas sementes tradicionais com a secas e queimadas, foi muito difícil naquele tempo. Mas, recebemos ajuda da comunidade Canauanin, que nos doaram manivas e hoje temos nossa roça recuperada”, relembrou Nelia.
A região Serras também doou sementes de milhos para a roça das mulheres, os frutos da corrente de solidariedade já foram colhidos.
“Na primeira colheita tiramos onze sacas de milho, já fizemos farinha, tiramos tucupi, goma e outros produtos derivados da mandioca, e somos gratos a todos pela ajuda”, reforçou a coordenadora de mulheres.
A ida à roça acontece duas vezes na semana para fazer limpeza, arrancar as manivas. Um trabalho feito à base da coletividade, mulheres, homens, jovens, anciões todos envolvidos no ajuri (espécie de mutirão).
Nem mesmo os desafios da região, principalmente pela falta d’agua, prejudicaram os benefícios e os resultados do cultivo da roça tem sido celebrada como muito orgulho.
Parte das manivas já estão quase no jeito para colheita, as mandiocas grandes é o resultado do uso de adubo orgânico preparado com esterco bovino.
As sementes tradicionais foram doadas pelas regiões Serra da lua e Serras Fotos: Ascom/CIR
O Segundo Tuxaua da comunidade, Jonelson Macuxi, ressaltou que a iniciativa da doação das manivas foi importante para a comunidade continuar a produção sustentável, e a união de todos tem contribuído para manter o espaço.
“Os trabalhos iniciaram no dia 03 de abril, com a participação da comunidade tem dado certo, conseguimos plantar essa roça e objetivo é multiplicar as sementes e também ajudar outras comunidades, eu agradeço a dona Neilandia , a tuxaua da comunidade Canauanim pela doação”,concluiu o Macuxi.
A doação das sementes tradicionais, teve apoio do Conselho Indígena de Roraima (CIR), por meio do Departamento de Mulheres, coordenado pela Tuxaua Geral do Movimento de Mulheres Indígenas, Kelliane Wapichana, além da Funai regional e demais instituições.
Os planos são aumentar a produção com feijão, abóbora, macaxeira, pimenta, para isso, um novo local já está sendo preparado para receber as sementes, á área fica na serra próximo a comunidade.
A roça tem um hectare e meio, a expectativa é aumentar a produção e o tamanho do local Fotos: Ascom/CIR
A jovem Otaviana Lima, presente no ajuri, comentou dos esforços para fazer a roça, ela acompanhou o processo desde o início junto com os demais jovens cada um ajuda como pode e o apoio tem sido essencial para manter a roça.
“Ajudei pela primeira vez ,e vi que é muito importante a participação dos jovens, aprender com os mais velhos, como se faz e cuida de uma roça, pois é daqui que tiramos o sustento da nossa família e comunidade, eu peço que essa roça não se acabe e eu vou me esforçar para cuidar dela”, disse Otaviana.
Na roça tudo é feito manual, sem uso de máquinas pesadas, sem agrotóxicos, preservando os conhecimentos tradicionais, fortalecendo a autonomia e a sustentabilidade dos moradores da comunidade Camará. Em breve serão colhidos produtos saudáveis e fresquinhos, parte dele será comercializado a outra consumido pelos moradores da comunidade.
Helena Leocádio- Jornalista
Eduardo Fredi – Social Media
Ascom/CIR