Parlamentares federais visitam mobilização e afirmam posicionamento contra o marco temporal

Após 24 dias de intensa mobilização contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 48 e outras propostas que violam os direitos indígenas, o movimento indígena de Roraima recebeu nesta quinta-feira(21), na comunidade indígena Sabiá, na terra indígena São Marcos, os deputados federais, Stélio Denner e Duda Ramos.

No encontro, lideranças indígenas de várias regiões manifestaram seu posicionamento contra a PEC 48 e 36, de autoria do senador Mecias de Jesus, a suspensão da Lei 14.701 e outras propostas leis que violam os direitos indígenas, cobraram um posicionamento sobre o marco temporal e mandaram mais uma vez recado ao senador Hiran Gonçalves, pedindo o arquivamento da PEC e reforçaram o pedido pela presença do senador.

No encontro, lideranças indígenas de várias regiões manifestaram seu posicionamento contra a PEC 48 e 36. Foto; Wey Tenente| Rede Wakywaa.

Ao reforçarem que Roraima e Brasil é terra indígena, cobraram um posicionamento sobre o marco temporal. “ Nós, enquanto juventude indígena, mulheres e lideranças, somos cientes e conscientes do que estamos aqui. O nosso grito é de resistência, enquanto existir povos indígenas, não vai existir marco temporal”, manifestaram.

“Levem esse recado ao senador Hiran, que suspenda essa PEC, que vem matando, destruindo a nossa terra. A gente só vai sair quando ele rasgar essa PEC”, completaram.

Ao reforçarem que Roraima e Brasil é terra indígena, cobraram um posicionamento sobre o marco temporal. Foto: Caíque Souza\ Ascom: CIR,

“Não vamos silenciar nossa voz, enquanto os senadores e deputados, estiverem criando leis perigosas, estaremos em defesa de todo o povo indígena de Roraima. Essa PEC não é só para Roraima, vai atingir o Brasil todo. Estamos pedindo para arquivar a PEC 48. Nós vamos sair daqui, quando o Hiran retirar de vez a PEC. A mesa de conciliação, para mim, é uma mesa de complicação”, concluíram.

O líder indígena constituinte, tuxaua Waldir Tobias, que participou da elaboração dos artigos da Constituição, garantindo os direitos indígenas nos artigos 231 e 232, também fez um apelo aos parlamentares para que levem o recado ao senador.“ Quero pedir ao deputado que peça ao senador Hiran, que suspenda essa PEC. Eu deveria estar lá na minha comunidade, esse povo deveria estar, mas essa PEC está nos perturbando. Eu fiz parte em 88, assisti e fiz a proposta para construir os nossos direitos. Deputado, leva esse recado ao senador, para arquivar essa PEC. Nos ajudem, deputado”, reforçou.

“Não vamos silenciar nossa voz, enquanto os senadores e deputados, estiverem criando leis perigosa”. Fotos: Wey Tenente| Rede wakywaa.

Após as manifestações das lideranças, um grupo de jovens dramatizou o processo de invasão das terras indígenas, presença de fazendeiros, destruição do meio ambiente e violências nas comunidades indígenas. Também dramatizaram sobre os impactos da PEC 48.

Também houve a leitura e entrega da carta do movimento indígena de Roraima, reforçando o posicionamento contrário à PEC 48 e pedindo o seu arquivamento.

O movimento também conta com a presença do coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas (APIB) pela Amazônia, Kleber Karipuna, que veio ao estado para fortalecer a luta do movimento indígena de Roraima. “ Enquanto Apib, pedimos que o senador arquive a PEC e pare de fazer defesa na mesa de conciliação com posicionamento contra os direitos indígenas. O senador Hiran está sendo um anti indígena fazendo essa defesa lá na mesa de conciliação. Defendendo garimpo, mineração, arrendamento e outras propostas que violem os direitos indígenas”, reforçou Karipuna.

O movimento também conta com a presença do coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas (APIB) pela Amazônia, Kleber Karipun.Fotos: Wey Tenente| Rede wakywaa.

No pronunciamento dos parlamentares, o deputado Duda Ramos, ao agradecer o convite enviado, saudou o movimento e declarou que quem defende o marco temporal, chega a ser desumano. “ Aqueles que são a favor do marco temporal chegam a ser desumanos, porque eles defendem que vocês só têm direito à terra aquelas reivindicadas, antes da Constituição de 88. Só que eles não sabem que vocês já estavam aqui. Esquecem das perseguições que vocês sofreram”, manifestou.

Ramos, ao considerar que ainda tem pessoas que não entendem a importância dos povos indígenas para a biodiversidade, comprometeu-se levantar a bandeira não só contra a PEC 48, 36, mas todas que são contra ao meio ambiente.

“Vocês são os maiores responsáveis pela biodiversidade, porque se não fossem vocês, já não tinha mais floresta em Roraima”. Ainda tem pessoas que não entendem a importância da natureza para a sobrevivência humana. A causa de vocês deve ser levada para congressos internacionais.” Levantar a bandeira não só contra a PEC 48, 36, mas qualquer PEC que seja contra o meio ambiente”, completou Ramos. Também se comprometeu a dialogar com o senador Hiran para não pautar a PEC na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) e se não conseguir, disse que vai levar ao presidente da República.

No pronunciamento dos parlamentares, o deputado Duda Ramos, ao agradecer o convite enviado, saudou o movimento e declarou que quem defende o marco temporal, chega a ser desumano. Fotos: Ca´qiue Souza| Rede  Wakywaa.

Stélio Denner, um dos parlamentares a votar contra o marco temporal na Câmara, reforçou o seu posicionamento e comprometeu-se a continuar votando contra. “Defender a terra mãe para os indígenas, de usar a terra e dispor da terra, de acordo com a consciência de vocês. Votei contra o marco temporal e votarei quantas vezes for possível. O Defensor aqui, tem a posição clara contra o marco temporal. Essa nova PEC, não pode mudar o artigo 231, é imutável. Não pode mudar. É não ao marco temporal e se for para a Câmara, vou votar não”, comprometeu-se.

“Farei o ofício solicitando ao senador Hiran, para retirar a PEC 48 e também ao senador Mecias, levar o posicionamento de vocês sobre a PEC 36”, completou.

Como aro de compromisso à causa dos povos indígenas, os parlamentares receberam pintura de jenipapo e urucum. ” O vermelho significa nenhuma gota a mais de sangue indígena e o preto, estamos de luto”.

O movimento indígena reforçou que vai permanecer mobilizado até que o senador Hiran Gonçalves suspenda a PEC e atenda ao pedido de marcar presença na mobilização.