A oficina ocorreu no tradicional barracão Cecília Ribeiro de Souza, comunidade Aningal, terra indígena Aningal, região Amajari.
Nem a forte chuva que caiu na madrugada e se estendeu durante o dia, impediu a participação das mulheres na oficina de corte e costura. Ao som do zig zag das máquinas, foram feitas pelas mulheres, bolsas, calças, vestidos, camisas, e artesanatos os detalhes e criatividade ficou por conta de cada uma, o material produzido será exposto durante desfile no mês de agosto em Boa vista.
Para fazer a troca de conhecimentos e fortalecer as mulheres da região Amajari, foram convidadas as artesãs Valdelia Macuxi, Cíntia Laurentino, da comunidade Pium, região Tabaio, Valterlina de Souza e Teresa Barros da comunidade Sucuba, região Alto Cauamé, que levou as máquinas de costura, cada uma delas trouxe a experiência das produções feitas em suas comunidades. Cíntia repassou aos jovens e as mulheres a arte de fazer grafismo indígena nas roupas.
Mulheres durante a prática de corte e costura Foto: Kallyne Mota
Foram dois dias de atividades voltados para receber informações sobre direito e autoestima, cuidar da saúde da mulher, oficina de corte e costura. As atividades foram realizadas durante Assembleia Extraordinária das Mulheres da Região Amajari, com o tema “Venha Mulheres Fortalecer Nossa União, a Base do Empoderamento e a Autoestima”.
A ação foi realizada com apoio da Embaixada Real da Noruega, Fundação Ford, Diocese de Roraima e Conselho Indígena de Roraima (CIR) que por meio do Departamento das Mulheres Indígenas da instituição tem desenvolvido atividades para o fortalecimento das mulheres com capacitação, oficina e palestras.
“Estamos aqui juntas para buscar soluções para os problemas que atinge os nossos territórios, falar dos nossos anseios, para que juntas possamos fortalecer o nosso território, nossos projetos, para ter o nosso território muito sangue foi derramado, por isso precisamos estarmos unidas nos fortalecendo e aqui é o momento de troca de saberes uma ajudando a outra juntas somos mais fortes”, expressou Kelliane Wapichana, tuxaua geral do departamento de mulheres do CIR.
As mulheres também receberam informações sobre autoestima, cuidado com a saúde, e os tipos de violência contra a mulher. As palestras foram feitas pela equipe multidisciplinar do DSEI/LESTE RR, composta pela enfermeira Sandra Ariana, responsável técnica pela saúde da mulher, e pela enfermeira Priscila Kotinsk, responsável técnica pela saúde do homem, jovem e idoso e a psicóloga Iterniza André, do povo Macuxi.
O autocuidado mental, social e físico foi explicado pelas palestrantes, que ressaltaram o cuidado principalmente com a saúde da mulher e durante o evento as profissionais ofertaram o atendimento de coleta para o exame preventivo. As violências física, sexual, patrimonial, moral e psicológica foram abordadas pela equipe.
“É preciso cuidar do emocional, a violência psicológica ocorre diariamente em diversos lugares, não apenas em casa, com palavras que ferem seja o sentimento ou pensamento da mulher, e isso nós chamamos de violência psicológica, dizer que a mulher é incapaz, que está gorda ou feia, que mulher só serve para lavar louça, ela é uma das maiores violências contra a mulher”, ressaltou Iterniza.
A parceria do Conselho Indígena de Roraima (CIR), e Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI LESTE-RR), tem levado a equipe a equipe para atendimentos e palestrar sobre temas importantes para as mulheres das comunidades indígenas, essa participação em específico marca o início da Campanha Agosto Lilás sobre a Prevenção da violência Contra a Mulher.
O nosso objetivo, ao receber o convite da tuxaua Kelliane e está aqui é justamente para passar essas informações, e que ela seja transmita a mais mulheres, a mãe conta para filha, que conta para irmã que conta para amiga e assim espalhar esse conhecimento para todos, e ajudar quem sofre com esses tipos de problema, é nosso dever ajudar e denunciar quem passar por violência na comunidade”, afirmou André.
Palestra sobre os cuidados com a saúde da mulher, os tipos de violência e autoestima Fotos: Ascom /CIR Helena Leocádio
“Cresci vendo meu pai maltratando minha mãe e quando adulta eu achava normal passar por isso também”, “Meu nome é superação, porque passei por muitas coisas, mas, hoje estou aqui firme e forte”, foram alguns dos relatos compartilhados pelas mulheres e pediram que a equipe continue passem mais uma vez no mês nas regiões e comunidades.
Maria Betânia, ex-secretária do movimento de mulheres indígenas de Roraima, também colaborou com a palestra, encorajando as mulheres a denunciarem casos de violência, se cuidarem e terem amor próprio.
“Aproveitem, mulheres, as profissionais que aqui estão, tirei dúvidas, busquem atendimentos, porque sempre tem uma mulher sofrendo violência, esse momento aqui é muito importante, se cuidem, se gosta de se arrumar, se arrume vocês são lindas, são fortes”, frisou Maria.
Participaram do encontro cerca de oitenta mulheres das comunidades Araça, Leão de Ouro, Três Corações, Vida Nova, Mangueira, Santa Inês e Aningal, região Amajari.