Jovens indígenas debatem saúde mental e a reconstrução de sonhos

Com atenção à saúde dos jovens nas comunidades indígenas de Roraima, o Núcleo da Juventude Indígena do Conselho Indígena de Roraima (CIR), promoveu durante dois dias, 11 e 12, o I Seminário Estadual da Juventude Indígena de Roraima sobre Saúde Mental, com o tema “ Salvando vidas e reconstruindo sonhos”, um tema necessário e importante, não somente para debater a saúde mental, mas, também fortalecer o movimento da juventude em Roraima.

O evento foi  realizado na comunidade indígena Canauanim, região da Serra da Lua, município de Cantá. Segundo o Núcleo, a comunidade é uma das que estão com alto índice de suicídio entre os jovens, e que por isso escolheram o local na VIII Assembleia Estadual da Juventude, realizada em outubro do ano passado.

 

Jovens durante o seminário 

Com a participação de  mais de 300  jovens das regiões Alto Cauamé, Amajari, Baixo Cotingo, Surumu, Serras, Raposa,Murupu, Serra da Lua e Tabaio, o seminário também reuniu representantes de órgãos públicos municipais e federal, além de profissionais de psicologia, que contribuíram com a dinâmica de informações e esclarecimentos durante o evento.

Um dos palestrantes foi o psicólogo, Rômulo Terminelis, que compôs a  mesa “Escuta da Juventude”. Romulo ouviu os anseios dos participantes e também compartilhou o estudo realizado na região Serra da Lua, e apontando como uma das regiões do estado de Roraima com alto índice de depressão e tentativa de suicídio. Destacou as comunidades indígenas Canauanim, Malacacheta e Tabalascada, como uma das que mais apresentam casos.

Essas três comunidades da região Serra da Lua, estão no ranking da tentativa de suicídio, é  uma situação que nos preocupa muito,o que tem levado os jovens  a tentarem  suicídio, muitas vezes é problema familiar. O abuso sexual, é uma situação que não pode ser externada, muitos estão sofrendo calados padecem em silêncio por terem medo de falar com alguém e não ser entendido,  o que eu indico é que procure ajuda, vá ao caps, converse com alguém de confiança” pediu o psicólogo.

 

Mesa de debate- Escuta da Juventude 

Com dinâmicas, os jovens expressaram sentimentos, compartilharam vivências, e aprenderam a valorizar um ao outro, a importância do trabalho coletivo e principalmente o valor da vida.

É muito importante falar sobre saúde mental,as pessoas acham que depressão é brincadeira e não é! Estamos aqui para ajudar a quem precisa, dá as mãos e continuar a caminhada”, comentou Lázaro Wapichana, tuxaua da comunidade indígena Pium, presente no evento junto com os jovens do grupo “Os filhos da retomada”.

 

Participação dos jovens no momento  dinâmica 

O coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista, ressaltou o protagonismo da juventude indígena em  realizar o seminário voltado para saúde mental, e afirmou que é um problema social que todos devem unir forças para prevenir.

“ Mais uma vez os jovens indígenas estão protagonizando esse momento importante, falar sobre esse mal que é um problema social é fundamental e precisa da colaboração de todos para salvar a vida dos jovens e estamos aqui para apoia-los”, concluiu Batista .

A coordenadora regional da Funai, em Roraima, Marizete Macuxi, e representes do conselho tutelar do município de Cantá, prestigiaram o seminário no primeiro dia, Marizete reforçou o apoio da instituição à juventude indígena e deixou uma mensagem aos jovens.

“Quero dizer para vocês, que vocês são fortes,são importantes ,vocês vão e podem fazer a diferença, acredite no seu potencial “, disse Marizete.

 

Marizete Macuxi, coordenadora regional da Funai/RR e Edinho Batista, coordenador geral do CIR, fortalecendo a juventude 

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo, estima-se que, por ano mais de 700 mil pessoas cometam suicídio, ainda segundo a organização o número pode chegar a 1 milhão se forem considerados os casos não registrados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios todos os anos, o que leva uma média de 38 pessoas por dia.

 Em Roraima segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesau), os números de suicídios  são preocupantes , em 2021 foram registrados 261 casos de suicídios, seis a mais que em 2020. Em 2022  o índice aponta que 224 pessoas tiraram a própria vida, até setembro do ano passado haviam sido registrados 199 casos de suicídio.

A saúde mental tem sido uma das preocupações de pais, mães e lideranças, que tem lidado com situações envolvendo os jovens, e tratar sobre o tema e principalmente como prevenir o adoecimento mental é essencial pata ter uma juventude fortalecida.

Para orientar, dialogar e prestar esclarecimentos sobre a pauta, a psicóloga Iterniza André, do povo Macuxi, e a enfermeira Priscila Gonçalves, que atuam no Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste/RR), estiveram na tarde (12), no evento. Abordaram o tema “saúde mental – voltando a brilhar”.

Ao refletir, Iterniza destacou que tratar sobre saúde mental “é preciso ficar atento aquilo que tem prejudicado a saúde mental”. Sugeriu identificar os fatores que vão ajudar a manter a saúde em dia e apontou que, uma das fases em que os jovens mais experimentam sentimentos negativos é na fase da adolescência.

Como uma das formas de cuidar da saúde mental, Iterniza destacou a importância do auto conhecimento, além de saber investigar as qualidades, capacidade e dificuldades.

Priscila deu dicas de saúde mental, como alimentação saudável, qualidade do sono, atividade física e o diálogo familiar. “ A sua autoestima não depende da opinião de ninguém”, refletiu Gonçalves.

Com base nas  informações do Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (Dsei-Leste), que recebe as constantes demandas, destacou como um dos fatores de depressão, o abuso sexual  de menores meninas e meninos.

Outro diálogo com o tema “ Nós nos cuidamos”, foi conduzido  pelo vice-coordenador do CIR, Enock Taurepang. Taurepang falou de cuidados e sentimentos recíprocos, atos que também salvam vidas.

Acredito na juventude aguerrida, juventude que vai para o movimento indígena, e que busca estar nesse espaço com muita sede de participar e que esteja por amor”, refletiu. “A gente precisa cuidar um dos outros”, completou.

Fotos: Wey Tenente / Tahary Tenente 

A “ Trilha da Vida”

Os jovens fizeram a “ Trilha da Vida”, em homenagem a Hilton Cadete, ex- coordenador local da juventude, que faleceu em 2022, mas, deixou como legado o projeto de avicultura para os jovens da comunidade. A caminhada, iniciada às 5h da madrugada, levou os participantes à conheceram o novo local, onde será desenvolvido o projeto, em meio a gritos de resistências e cantos tradicionais,  compartilharam e ouviram experiências de superação.

Jovens durante a ” Trilha da Vida”  Fotos: Wey Tenente

O registro desse momento tão importante foi deixado no Mural da Juventude com assinatura  dos nomes dos jovens e na Árvore da Vida com as digitais de cada um .

A coordenadora estadual da Juventude, Raquel Wapichana, avaliou que o evento serviu para fortalecer a juventude da região e, principalmente, da comunidade Canauanim, uma das com alto índice de suicídio.

Acredito que o evento fortaleceu os jovens  da região Serra da Lua, principalmente esta comunidade, que tem tido alto índice de suicídio. Me sinto fortalecida e espero que os jovens voltem às suas comunidades e multipliquem as informações”, avaliou.

Construção da árvore da vida  Fotos: Tahary Tenente

Ao final os coordenadores da juventude de cada região, teve o momento de fala Paulo Ricardo Constantino, coordenador da juventude  região Raposa, agradeceu pela realização do seminário, que trouxe  fortalecimento aos jovens da sua região.

“Vamos voltar para nossa região mais fortalecidos, salvando mais vidas , viemos em vinte, mais vamos multiplicar essas informações e vamos salvar mais vidas” concluiu Paulo.

Fotos: Wey Tenente / Tahary Tenente 

O seminário, encerrou na segunda feira (12), com a avaliação dos resultados e planejamento das próximas atividades, entre as quais, o local do II seminário sobre a saúde mental que será realizado em  fevereiro de 2025, na região Baixo Cotingo no Centro Camará.

Realização: Núcleo da Juventude

Apoio: CIR, FUNAI, Comunidade Canauanim e Regiões