Evento preparatório para COP-28 é realizado na T.I Raposa Serra do Sol

Pela primeira vez em um território indígena brasileiro, o evento preparatório para a Conferência de Mudanças Climáticas (COP-28) destinado à participação indígena, é realizado no Centro Regional Lago Caracaranã, região da Raposa, na terra indígena Raposa Serra do Sol, município de Normandia.

Chamado de ” Intercâmbio de Experiências Locais sobre Mudanças Climáticas”, o evento sempre ocorreu em cidades brasileiras, como São Paulo, mas, este ano, a organização em consenso com lideranças locais decidiram trazer para o território indígena.

O evento reúne aproximadamente 70 participantes, incluindo povos indígenas de vários estados da Amazônia, como Mayuruna, Kaiabi Suia, Shanenawa, dos estados do Amazonas, Acre, Tocantins, Pará, além dos povos de Roraima, Wapichana, Macuxi, Taurepang e demais. Esses povos compõem a delegação da  COP-28, que será realizada em Dubai, no período de 30 de novembro a 12 de dezembro.

Imagens: Ascom/Cir

O Conselho Indígena de Roraima (CIR), que há muitos anos participa da agenda climática global, este ano, terá uma delegação de 4 membros. O ponto focal do grupo é a gestora ambiental, coordenadora do departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA) do CIR e liderança climática, Sineia Wapichana.

Durante os três dias, os participantes aprofundam e compartilham as experiências de gestão territorial e ambiental e as ações de enfrentamento às mudanças climáticas desenvolvidas pelo CIR e demais organizações indígenas da Amazônia, incidência internacional em clima e contextos globais, e outros temas relacionados à agenda sobre clima.

O CIR, como organização histórica na Amazônia e no Brasil, há muitos anos participa da Conferência de Mudanças Climáticas, levando a realidade não só dos povos indígenas locais, mas de todo o país. Aprofundando os debates, este ano, trouxe o evento para o Estado, como destacou Sineia Wapichana, no primeiro dia do evento.

“A importância dessa formação e informação é um intercâmbio de experiências, principalmente dos estados da Amazônia, de vários povos indígenas que hoje estão no Lago Caracaranã, juntamente com nossas regiões. Todas as nossas regiões estão representadas pelos coordenadores regionais, de mulheres e jovens nesse evento tão importante”, destacou Sineia, ao falar da importância do debate sobre mecanismos das mudanças climáticas.

Imagens: Ascom/Cir

A iniciativa do evento é do Conselho Indígena de Roraima (CIR), e das organizações que atuam com a pauta de mudanças climáticas, a Rede de Cooperação Amazônica (RCA) e Operação Amazônia Nativa (OPAN), com apoio das instituições, Rainforest, ICS, PNUD, FAS e FASTENAKTION.

O coordenador geral do CIR, Edinho Batista, reforçou que o mundo precisa ouvir e respeitar a voz dos povos indígenas. ” Esse encontro é tão importante porque as vozes que de fato estão sendo discutidas aqui. O mundo precisa ouvir, e não só ouvir a voz dos povos indígenas, mas de respeitar o que vai ser dito pelas nossas representantes que vão falar em Dubai”, reforçou.

O evento também é promovido pela RCA, Rede que atua com povos na Amazônia e tem incidência nas discussões globais. Presente no evento, Patrícia Zuppi, da Secretaria Executiva da RCA, cuja pauta é voltada para o debate de mudanças climáticas e participação das mulheres nos espaços de incidência, esclareceu sobre a iniciativa.

“Nessas reuniões preparatórias com as lideranças que estão indo ( para COP-28) e também com outras lideranças que possam se interessar pelo tema. Nós tentamos mapear e entender qual é o contexto da convenção, quais são os espaços e as oportunidades relevantes para a participação indígena. Quais são as pautas, quais são os temas prioritários que estão sendo tratados e que por ventura possam interessar às organizações, as comunidades. Para que a partir desse entendimento, desse mapeamento geral, as lideranças indígenas possam se preparar para levar as perspectivas das comunidades. Então, nós temos feito isso a uns bons anos, sempre em uma articulação com o movimento indígena da Amazônia e com o movimento indígena nacional”, esclareceu.

Para a pauta sobre “contextos globais de incidência climática- espaços relevantes para a participação indígena”, o evento conta com a presença de Verônica Gonzaléz, da Universidade Paris III.

O intercâmbio é realizado em momento crítico de emergência climáticas, com efeitos reais acontecendo em todo o Brasil, principalmente no estado vizinho, Amazonas, com a maior seca de toda história e em Roraima, com efeitos inéditos, como a chuva de granizo, ocorrido na semana passada na comunidade indígena Monte Muriá II, na terra indígena Raposa Serra do Sol, além da seca que já afeta várias comunidades indígenas em todo o Estado, prejudicando plantações e até a falta de água para o consumo humano e dos animais.

O evento iniciou ontem (24) e segue até sexta-feira, 27, com as deliberações e propostas aprovadas.