Lideranças indígenas debatem ações preventivas contra seca nas comunidades indígenas

A coordenação executiva do Conselho Indígena de Roraima ( CIR), e as coordenações regionais, em reunião na sede do CIR, nessa quarta-feira (18), discutiram ações de enfrentamento a seca nas comunidades indígenas.

No encontro os coordenadores das regiões Tabaio, Alto Cauamé, Surumu, Murupu, Raposa, Amajari, Serra da Lua, Baixo Cotingo e Serras, apresentaram as demandas regionais, e uma das principais preocupações são as consequências da seca que já afetam as comunidades.

A falta de água tem afetado a vida das comunidades, conforme os relatos das lideranças. A seca tem prejudicado os animais que precisam do pasto para se alimentar, nas  roças, as maninavas, matéria prima para produção de farinha, beijú, goma e outros alimentos, estão secando, e as poucas que sobram não tem dado para produzir com qualidade e nem em grande quantidade.

Fotos: ascom/ cir 

Na região Serra da Lua, são 21 comunidades. Na reunião, o coordenador regional, Clóvis Ambrosio relatou que a mudança climática tem atingido drasticamente a região, com a seca e chuvas fora de  época. A última chuva que deu, foi tão forte que destruiu casa e plantação, os animais estão sofrendo, com essa reação da natureza.

”É uma dificuldade muito grande, não temos mais nossos pés de caimbé, mirixis,nós e  o nosso lavrado estamos sofrendo com a seca, queimada e com as mudanças climáticas”,relatou a liderança.

Outra preocupação apresentada, é a saúde dos moradores que vivem nas comunidades com falta de água. O Tuxaua da comunidade Teso do Gavião e presidente local de saúde da região Baixo Cotingo, Alzemiro da Silva informou que  visitou mais de 15 comunidades da sua região e constatou que a preocupação é a mesma: falta de água.

 Estamos andando nas comunidades, e vi que elas estão passando por dificuldade. Na comunidade Camarão, por exemplo, a situação está crítica, na  comunidade Santa Maria, as pessoas estão doentes com diarréia e vômito, devido a água que está feia, com cor de ferrugem “, informou o coordenador.


Mudanças climáticas é real nas comunidades indígenas

As sementes tradicionais também são alvos de preocupação, em alguns lugares a perca delas devido a falta de água e queimada já é uma triste realidade.

Na região raposa o coordenador Valério Eurico, conta que três comunidades estão sofrendo com a alta temperatura, sem água, as sementes estão secando, o pouco da produção como a maniva, não está boa para fazer farinha.

Comunidade urubuzinho, o poço já secou, os moradores estão indo buscar água no lago grande”, disse Eurico.

Paulo Ricardo, coordenador da juventude  região Raposa, afirmou que a   preocupação é com com as roças.

“Vamos montar um plano, para poder manter nossas sementes tradicionais, principalmente a maniva”.

 

 Região Raposa  Fotos: Ascom /Cir

As mulheres indígenas também relataram sobre as mudanças climáticas que são reais nas comunidades indígenas. A coordenadora de mulheres do Amajari, Odete Barroso, não relutou em dizer que  as reações de hoje são consequências da ação humana. ” Nunca tinha visto chuva de gelo, e na comunidade Monte Muriá as crianças estavam brincando com gelo”, relatou.

No Amajari, os rios estão apartando, e os peixes  morrendo. Para dona Odete, isso causa uma angústia, ao pensar o que será com o  futuro da nova geração.

” Minha comunidade (Araçá), está passando por necessidade de água, o nosso povo está sofrendo, os poços artesianos estão secando, e o rio apartando e no futuro o que vamos fazer”, questionou Odete.

O coordenador regional do Surumu, Walter de Oliveira, contou que na região são 25 comunidades. E além, da seca e queimada, tem as cercas, que impede a passagem dos animais aos os locais que ainda tem os pastos úmidos, colocando em risco a vida dos   mesmo, que dependem do pasto para se alimentar.

Na região Tabaio, a coordenadora de mulheres Jailda Teixera da comunidade Barata, expôs a situação preocupante vivida pelos moradores do local, que vivem cercados pelo agronegócio.

“Na nossa região estamos cercados pela soja. Na comunidade Barata não tem rio e nem igarapé, estamos ficando sem roça, e estão fazendo a farinha dos brancos, nossos idosos, estão sendo afetados, pelo veneno da soja, pelas fumaças das queimadas, e o calor intenso.

“A situação é preocupante, para amenizar pelo menos a seca precisamos de mais poços artesianos, pediu Jailda.

Conforme Dorgival Tomas, no alto Cauamé a seca tem prejudicado os animais,os gados tem deixado as comunidades em busca de água.

 Já nas Serras, o coordenador Amarildo Macuxi, o Rio Maú, secou muito rápido, e tem prejudicado a produção sustentável  a base da alimentação das comunidades.

 “As comunidade Pedra Branca , Enseada e Maturuca, estão sofrendo pela  falta de água”, disse Amarildo.

Alexsandro Chagas, coordenador da região Murupu, e também tuxaua da comunidade Serra da Moça, diz que são 96 pais de família na comunidade, a preocupação é com relação a queimada nesse período de seca, a inquietação também é compartilhada pela coordenadora das mulheres Valdelia da silva

 “É preocupante toda essa situação que vivemos hoje, água é vida, sem ela não conseguimos viver,  vê nossas plantações morrendo,nossos animais é muito triste, a serra da moça, era uma comunidade que nunca faltou farinha, hoje estamos vindo comprar farinha na cidade, essa é a nossa realidade de hoje”. afirmou Valdelia.

 

                            Região serras                                                                                                                                               Região Surumu
Conforme o coordenador do conselho indígenas de Roraima, um plano emergencial será elaborado, e as estratégias devem beneficiar a todos ( pessoas, animais e plantações), não só agora, mas, no futuro também, por que é preciso pensar nos anos seguintes.

Vamos elaborar o plano emergencial, para encaminhar as instituições parceiras, vamos contar com os nossos agentes Territorial ambiental indígenas, GPVTI, para fazer registros que servirão para apontar os dados, porque não temos estrutura para fazer as visitas in loco.Conformou o Batista.

Para Sineira do vale, coordenadora do departamento de gestão territorial e ambiental (DGTA) do CIR, que também participou da reunião,  as ações devem ser imediata e o trabalho coletivo vai ser fundamental, para isso, os agentes Territorial ambiental indígenas(ATAIS), operadores de direito, GPVTI de todas  todas as regiões entrarão em campo.

 Agora  é hora de unir forças,vamos usar nossos agentes para isso, fazer essa atuação nos locais mais afetado, para produzir um dossier com fotos e vídeos  desses locais, pegar depoimentos de pessoas, para ficar mais fácil de buscar apoio dos parceiros e dá uma reposta rápida as comunidades”, pontuou Sineia.

Ainda no encontro foi discutido, a verba de 12 milhões vindo por meio do Sesai para contratação de carros pipas, para abastecer as comunidades indígenas. A licitação faz parte dos planos emergencial de 2016, mas, que só agora foi atendido.

Para as lideranças é muito dinheiro, e esse valor deveria ser investido em perfuração de poços artesianos nas comunidades. Com isso, será feito um documento por meio do departamento jurídico,e encaminhado para os órgãos responsáveis, para intervir nessa questão, para que o recurso seja aplicado na forma de perfuração de poço artesiano.

Na reunião, outras pautas foram deliberadas como a alteração de data da assembleia extraordinária para mudança do estatuto do Cir, mudança na data da assembleia das terras demarcadas em ilhas, e a festa de comemoração da derrubada do marco temporal.