Em Roraima debates e atos contra o Marco Temporal e Racismo marcam a programação do dia internacional dos povos indígenas

“Pelos direitos e pela vida”, o tema alusivo ao dia internacional dos povos indígenas, celebrado nesta quarta-feira ( 9), em Roraima, trouxe a reflexão sobre a luta e a resistência dos povos originários frente aos retrocessos, como a violação dos direitos enfrentados diariamente nos territórios indígenas e também no contexto urbano.

São violações dos direitos territoriais, ameaças e violências aos povos em suas terras, como o garimpo, desmatamento, agronegócio, racismo e outras formas violências sofridas pelos povos indígenas do Brasil, em 523 anos, de resistência e existência.

O cenário repercutiu durante a programação, alusiva ao dia internacional dos povos indígenas, promovido pelo movimento indígena de Roraima, com mesas temáticas, apresentações culturais, exposições e ato, ocorrido durante o dia na Universidade Federal de Roraima (UFRR). 

Mesa com Lideranças Indígenas regionais/ Fotos Ascom CIR

Mesas temáticas

A primeira mesa foi composta pelas lideranças regionais e organizações indígenas. A professora Alcineia Pinho, do povo Wapichana, da região Serra da Lua, emocionada, lembrou das lutas das lideranças e pediu  proteção às mulheres, crianças, juventude e ao território,“ Nossos direitos precisam ser respeitados para não sofrerem retrocessos”, pediu a professora.

Para o coordenador da região das Serras  Amarildo Macuxi, liderança que desde jovem acompanha as lutas do movimento indígena, disse que é preciso respeito a todos os povos. Ele  acompanhou o julgamento do Marco Temporal em Brasília, e espera que a votação marcada para o mês de setembro seja em favor dos povos indígenas.

“Somos nós que protegemos a floresta, por isso, somos contra o Marco Temporal, que vem para violar nossos direitos “, reforçou o coordenador.

A segunda mesa foi composta pelas organizações indígenas,  Cir, Opir, Omir, Apir,Wanasseduume, Odic, Coping, kamuu Kandan, Umiab, APITSM e Dunui Sannau.Os participantes da mesa repudiaram os atos racistas contra os estudantes indígenas durante os jogos escolares.

Cecilita Ingarikó, frisou que os povos indígenas são importantes e merecem respeito, estão em busca de conhecimentos, formação para atuarem em prol do seu povo, “ Nós vamos ocupar cada vez mais espaço e cargos que são ocupados por não indígenas”, disse Cecilita. 

Keliane Wapichana, secretária  geral do movimento de mulheres indígenas de Roraima, destacou a importância da demarcação dos territórios. Citou como exemplo, a terra indígena Arapuá região Alto Cauamé, onde crianças e jovens vivem cercados pela monocultura.

A Secretária rebateu fortemente o Marco Temporal que, se aprovado, “vai limitar as demarcações das terras indígenas”.

Participação de Lideranças e organizações Indígenas/ organizações governamentais e não-governamentais

Não ao Marco Temporal

À tarde veio o debate sobre o Marco Temporal: Os impactos aos direitos indígenas e a democracia Brasileira. A mesa composta pela coordenadora regional da Funai, Marizete Macuxi, Júnior Nicácio assessor jurídico do Conselho Indígena de Roraima (Cir), Rickson Rios, professor de direito e de cooperação internacional e povos indígenas do Instituto Insikiran da UFRR, e Gilmara Fernandes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

No debate foram expostas as consequências e a preocupação sobre o julgamento do Marco Temporal, previsto para ser votado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro.

Júnior Nicácio esclareceu dúvidas dos participantes sobre o assunto. E destacou que o Marco Temporal é um retrocesso aos direitos dos povos indígenas garantidos na constituição. “ nossa história não começa em 1988, nossos ancestrais já estavam aqui, e vamos seguir acompanhando  o processo no STF”, disse Nicácio e reforçou que o CIR,  “amicus curiae”, que significa amigos da corte”, continuará acompanhando o julgamento.

A coordenadora regional da Funai, Marizete Macuxi, ressaltou que o Marco Temporal vem para prejudicar os povos indígenas interferindo nas demarcações dos territórios e  fez uma reflexão sobre as lutas, conquistas e desafios. “ É preciso continuar com nossas lutas e sermos resistências, não devemos esquecer de onde viemos, a luta é contínua,  é preciso que todos estejam unidos”, disse a coordenadora.

Mesa temática sobre o Marco Temporal

EEI Jairo Pereira marcou presença

Os estudantes da Escola Estadual Indígena Jairo Pereira, da comunidade Morcego, região Murupu, fizeram questão de participar da programação. Jairo Pereira (in memorian), foi vice-coordenador do CIR, e deixou um legado de luta pelo território e bem viver das comunidades indígenas.

Para expressar o momento histórico aos estudantes, o professor Adenildo Wapichana, conta que trouxe alunos do 6º e 9º ano, comentou sobre a iniciativa de levar os estudantes e frisou que foi uma aula. 

“Uma aula diferente, rica em conhecimentos importantes para o futuro dos alunos. Quem sabe não serão eles as lideranças que estarão lutando por nossos direitos, dando continuidade a luta do seu Jairo que é um exemplo para nós”, comentou o professor.

Um ato no Campus da UFRR, contra o Marco temporal e a hidrelétrica do Bem Querer, encerrou a programação do dia internacional dos povos indígenas. Teve exposição de artesanatos, apresentações culturais com Banda Kruviana, que faz parte do programa de extensão  Insikiran Anna Eserenka, grupo Música Sem Fronteiras, orquestra sinfônica  que reúne indígenas de diferentes povos da Venezuela.

9 de Agosto – Dia Internacional dos Povos Indígenas

Desde 1994, povos indígenas do mundo inteiro celebram o Dia Internacional dos Povos Indígenas, no dia 9 de agosto. O dia foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), para homenagear e reconhecer a diversidade cultural dos povos, além de promover a conscientização sobre a inclusão dos povos originários.

A data também alerta sobre direitos e reafirma as garantias previstas na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.