Como jornalista, comunicadora indígena e coordenadora do departamento de Comunicação da nossa organização Conselho Indígena de Roraima, juntamente com a responsável do Apoio Emergencial ao povo Yanomami, a técnica em enfermagem e gestora em saúde coletiva, Vanessa Ribeiro, estivemos pela primeira vez no território Yanomami para acompanhar a entrega de insumos emergenciais e verificar in loco o atendimento à saúde, além de contemplar a dimensão territorial e seus desafios. Foi uma missão inédita de vivência, experiência, aprendizagem e de comoção, pois vimos e sentimos a realidade do povo Yanomami, que ainda pede socorro e luta pela sua sobrevivência, física, cultural e ancestral.
Esse só foi mais uma cobertura da ação SOS Yanomami. Fotos: 1 e 2, Vanessa Ribeiro. Foto: 03, Márcia Fernandes: ASCOM/CIR
Tive a missão de fazer a cobertura da entrega de insumos como redes, lençóis, mosquiteiros, mas também de ouvir os Yanomami sobre o atendimento à saúde, invasões do território e outros problemas que afetam o povo. Com celular, por três dias, me dediquei a registrar cada momento. Tive o cuidado ao registrar com a devida e prévia autorização e respeitando os parentes Yanomami, seus olhares, costumes e condição de saúde.
Um dos momentos marcantes foi a remoção de pacientes. Vi de perto a luta pela vida, uma luta que se torna constante e desafiadora, principalmente quando falamos do acesso aos serviços de atendimento à saúde. É uma realidade diferente da que vivemos nos territórios de lavrados. Aqui para ir ao hospital ou posto de saúde o deslocamento é mais fácil, lá é helicóptero ou a pé. Já imaginou uma pessoa com febre caminhar quatro ou cinco dias pela floresta em busca de médico? É difícil viu.
O trabalho dos profissionais de saúde que cuidam do povo yanomami também chamou a minha atenção. Muitos deles deixam a família e o aconchego do lar para se dedicar a crianças, jovens, adultos e idosos que vivem em meio a floresta, são dias e dias longe de casa.
Mas, a recompensa vem no olhar feliz de uma criança. As crianças têm o olhar inocente e feliz, não percebem o mal que as rodeia (a destruição causada pelo garimpo), por isso, temos que continuar lutando e resistindo em defesa do nosso território, para garantir a vida das futuras gerações.
Vanessa Ribeiro- como coordenadora do apoio emergencial do CIR, desde 2020, quando recebi esta missão só acompanhava de longe o sofrimento do povo Yanomami e dessa vez, estando pela primeira vez na região Surucucu junto com os nossos parentes Yanomami foi novidade. Eu já fui em diversos lugares de Roraima, fazer a entrega de insumos da campanha, mas, lá foi diferente, o que eu sabia sobre a situação deles era só de ouvir falar pelas lideranças indígenas Yanomami e pelos meios de comunicação. O que mais me chamou atenção foi o difícil acesso para os parentes Yanomami chegarem ao polo base de Surucucu em busca de atendimento a saúde, a mata é muito fechada.
Vanessa Ribeiro em diálgo com o Presidente da Assossiação URUHI e as lideranças Yanomami. Fotos; Márcia Fernades/ASCOM/CIR.
O gratificante é ver que os materiais adquiridos pela campanha SOS Yanomami, vão contribuir para dar um mínimo de conforto principalmente às crianças e idosos. Pois, vimos, no olhar deles a felicidade quando receberam as redes e lençóis, que será bastante útil, principalmente nesse período chuvoso quando faz muito frio na mata. Ao ouvir relatos, pude perceber que com toda estrutura e ajuda que tem agora, eles estão melhor que antes, mas, precisa melhorar ainda mais.
A ida ao território Yanomami, além de marcante, foi muito importante, porque vemos os resultados dos esforços da nossa organização e de toda equipe que trabalha, incansavelmente, para levar ajuda aos parentes Yanomami que tanto precisam e passam por essa tragédia humanitária que ainda não acabou. A reflexão que fica dessa missão é que estamos fazendo a nossa parte, e a sociedade brasileira e a humanidade, também precisa fazer pela saúde e a vida do povo Yanomami, que está em risco.
Márcia Fernandes* e Vanessa Ribeiro **
*Jornalista e Coord. do Departamento de Comunicação
** Técnica em Enfermagem e Gestora em Saúde Coletiva Indígena