Evento que reuniu Comunicadores em Boa Vista na Universidade Federal de Roraima – UFRR, demonstra a importância de se mostrar a realidade por meio da Comunicação Indígena, mesmo em tempos de perseguição e ameaças

Promovido pelo Conselho Indígena de Roraima – CIR, através de seu departamento de Comunicação de 09 a 10 de fevereiro de 2023, a cerca de uma semana, o encontro uniu a força da juventude e a comunicação indígena de base, que se concentra principalmente em contar a história e a vivência das comunidades. Como objetivo principal a Rede de Comunicadores Indígenas Wakywai, que traduzido dá língua Wapichana significa, Wa – nossa/ Kywai – historia ou notícia, a rede é um dos meios surgiram para demonstrar como as comunidades são vistas de dentro, não excluindo a visão externa, mas dando o ponto de vista de quem vive as situações e as atividades que muitas vezes só são mostrados de forma muito rápida ou pejorativa em redes sociais e meios comunicação.

Com o tema: experiencias, desafios e próximos passos, o objetivo central do encontro foi mostrar a história de quem está inserido na comunicação indígena de Roraima aproveitando e enfatizando a importância de a voz da comunicação partir de quem vivencia a realidade das comunidades. Outro objetivo do encontro é postar no site e redes sociais do Conselho Indígena de Roraima a maior quantidade de material produzido pela Rede de Comunicadores Indígenas Wakywai. O encontro foi uma realização Conselho Indígena de Roraima, através do departamento de comunicação, apoio Fundação Ford, apoio logístico, Coordenação do Curso de Comunicação e Jornalismo – UFRR, e Instituto INSIKIRAN.

Como uma grande roda de conversa aberta, os comunicadores expuseram seus anseios, também ameaças que já sofreram ao realizar suas atividades, relembraram as primeiras oficinas de comunicação, e apresentaram novos e antigos trabalhos, com vídeos, fotos e cards.

 

Reunindo mais de 60 pessoas entre comunicadores, convidados e lideranças indígenas o evento ocorreu na sala de Cinema do Centro Amazônico de Fronteira – CAF, na UFRR, com cerca de 30 comunicadores macuxi, wapichana, taurepang, sapará e yekuana, além da Coordenação do Coordenador do CIR, edinho Batista, Secretaria do Movimento de Mulheres indígenas, Maria Betania, Coordenadora da Juventude Indígena de Roraima, Raquel Viana, Coordenador do Curso de Comunicação e Jornalismo da UFRR, Tarcisio Oliveira, entre outros convidados que participaram das mesas, como, Mayra Wapichana, Jornalista Indígena, Eduardo Fredi e Fernando Augusto, Resistir Produções, Raffa Black, poeta e compositora local, Barto Macuxi e Emerson Aruak artivistas indígenas, Dones dos Santos, ativista e artesão, Evilene Paixão jornalista e ativista, Rubens Valente, jornalista e autor do livro: Flechas e Fuzis, Adriã Galvão, Podcast Cunhatã, Jhully Van de Berg, comunicadora e produtora artística, Vilson Santi, Amazoon, alunos e professores da UFRR.

Heslen Alvez, do povo macuxi, comunicadora da Região Surumu, T.I Raposa Serra do Sol, explicou que ouviu de suas lideranças tradicionais que “se conta o passado para construir um futuro.” E disse:

“Nossos anciões falam que nós não passamos o que eles passaram, e que por muitas vezes foi doloroso, a gente registra o que eles falam para mostrar no presente aos outros, mas principalmente em nossa comunidade, que muitas vezes não tem um bom acesso à internet, e não conseguem ver estes depoimentos, e essa é a nossa missão levar a palavra da liderança para cada comunidade. Foram eles que lutaram para estarmos aqui hoje, falando sobre comunicação e sendo comunicador.” Afirmou Heslen.

Como método de também de combater as mentiras e a difamação promovida por mídias nacionais e locais, os comunicadores surgiram para dar voz e vez a comunicação indígena, um dos exemplos foi a gravação feita na T.I Raposa Serra do Sol, em maio de 2005, por Aldenir Cadete, do povo macuxi, que na época fazia os registros da região, junto a Davison Bukley que realizava os registros para o Conselho Indígena de Roraima – CIR.

Aldenir filmou o ataque as lideranças, conhecido como “10 Irmãos” que feriu 10 lideranças e deixou traumas psicológicos e físicos a outras. A filmagem foi levada ao julgamento no Superior Tribunal Federal – STF, junto a primeira defesa oral de um(a) indígena, Joenia Wapichana, advogada do CIR na época, defendendo a demarcação da T.I Raposa Serra do Sol. O vídeo feito pelo comunicador Aldenir mostrou a realidade vivida pelas lideranças durante o processo de demarcação. Pensando na posterioridade, a câmera foi marcada pela liderança com a data do fato, para que todos que a vissem lembrassem do poder da comunicação e do registro feitos por lideranças indígenas. Inspirada nisso, Charlene Wapichana, comunicadora da região Serra da Lua, conta que muitas vezes ouvia, via e ainda vê como os povos indígenas são retratados, mas que os comunicadores dão uma nova visão e luz aos fatos da comunidade.

“Cansamos de ouvir o índio é preguiçoso, o índio não faz nada, só que não, na base (comunidades, regiões e territórios), temos muitos produtos, temos o projeto de gado, temos nossa realidade e nossos costumes, não é porque viemos ou não para a cidade que os deixamos, mantemos nossa cultura e para isso andamos alinhados as nossas lideranças, principalmente com nossa organização (CIR). Estamos aqui com essa coragem, temos relatos de pessoas que pereceram por não abrirem a porteira para passar, uma mulher grávida veio a óbito, junto a criança. São fatos que aconteceram que já nos passaram para contar. As lideranças têm muitas historias, ainda temos muito a mostrar.” Disse Charlene.

 

Caique Souza, povo Wapichana, assessor de comunicação do CIR, citou a importância da realziação do evento na UFRR.

“Recentemente dois dos comunicadores indígenas entraram para o curso de comunicação da federal, é uma alegria, mas não foi por nosso mérito, mas sim da organização e do esforço dos mesmos, que agora, com uma base da comunicação indígena, conheceram a comunicação como ela é feita dentro da universidade, jamais esquecendo que esta será um complemento, jamais uma substituição do que já faziam ou já experimentaram, será uma nova etapa, para eles para o movimento indígena, em geral, e para os comunicadores.”

Os comunicadores também visitaram a sede da Rede Televisão e Rádio Universitária da Universidade Federal de Roraima – RTU, conhecerem os estúdios da programação local, visitaram também a Rede Amazônica de Televisão, afiliada da Rede Globo nacional, e conheceram a equipe que também faz a cobertura sobre a crise dos povos Yanomami.