Café sustentável e orgânico: produtores da Terra Indígena Mangueira participam de oficina sobre a cadeia produtiva

Conselho Indígena de Roraima (CIR) realizou nos dias 29 de novembro a 1° de dezembro, em Boa Vista, por meio do Departamento de Gestão Territorial (DGT), uma Oficina para Promoção da Cadeia Produtiva do Café, da Terra Indígena Mangueira, região Tabaio, município de Alto Alegre, onde participaram cerca de 30 pessoas entre lideranças, mulheres, crianças e jovens. O objetivo foi fortalecer essa Cadeia Produtiva, além de estudar de qual maneira o produto pode chegar no mercado com o selo indígena. A promoção da cadeia produção do café, é uma iniciativa do CIR, em parceria com o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), no âmbito do projeto Bem Viver. A Terra Indígena Mangueira, onde vivem os povos Macuxi, Sapará e Wapichana, nas quais duas línguas são faladas: a Wapichana e Macuxi, há mais de 30 anos trabalha com café orgânico e sustentável.

Os debates giraram em torno de modelos de desenvolvimento e  sobre  a produção sustentável em Terras Indígenas, diagnóstico da produção calendário sazonal valorizando os produtos indígenas e seus respectivos  potenciais ambientais, culturais, medicinais, sociais e econômicos, além de mapeamento dos gargalos e fortalezas dos elos da Cadeia de Valor do Café indígena, que perpassa a organização social para produção, cultivo, colheita, beneficiamento, comercialização.

O CIR vem apoiando as ações do cafezal, desde a colheita, com oficinas, discutindo a importância de colocar o café no mercado, mas antes para a própria comunidade. A Terra Indígena Mangueira possui o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) construído pelos próprios indígenas, com apoio do DGTA e uma das implementações do PGTA, foi essa oficina para promoção da cadeia produtiva do café.

“São famílias que trabalham com o café na Terra Indígena Mangueira, que hoje busca o norte de como colocar esse café no mercado. Estudamos sobre cadeia produtiva do café, desde o melhoramento da plantação, até torrar e moer, além de como isso pode chegar no mercado com o selo da comunidade indígena Mangueira, com histórico desse café. Parte dessas famílias estiveram na oficina, os resultados foram positivos”, explicou a coordenadora do DGTA, Sineia do Vale, do povo Wapichana.

Os debates giraram em torno de modelos de desenvolvimento e  sobre  a produção sustentável em Terras Indígenas. FOTOS: Márcia Fernandes

No encontro, grupos de trabalho foram divididos onde cada um pôde mapear os gargalos e potencialidades de um elo, depois os grupos foram convidados a realizarem uma apresentação em plenária e complementação a partir do debate, dentre outras discussões

“A gente concebeu um plano de ensino muito voltado para que a comunidade pudesse entender como se dá os diferentes elos de uma cadeia de valor, uma cadeia produtiva, isso faz parte do triângulo da gestão territorial e ambiental, que passa pela geração de renda e produção sustentável, que é um dos grandes pilares que garante segurança alimentar e de renda para as comunidades. Discutimos também o valor cultural, medicinal e ambiental, social para além do valor econômico, a importância dele manter os modos de vida tradicionais, mas olhando para frente buscando mercado, melhorando o produto, boas práticas de manejo, além de unir a comunidade e também promover a geração de renda”, comentou Andréia Bavaresco, coordenadora técnica do IEB, organização que participou como facilitadora do encontro.

Há mais de 30 anos trabalha com café orgânico e sustentável. FOTOS: Márcia Fernandes.

Terezinha Augustinho, do povo Macuxi é uma das produtoras do café Kuinan, que significa a união das saúvas e esteve participando do seminário. Para ela, o projeto café tem acarretado um grande potencial para comunidade.  São 130 pessoas e 28 famílias, 15 pessoas que trabalham diretamente no projeto. “O projeto café tem trazido uma grande renda familiar, onde também na época da colheita do café, 70% é tirada para a renda da comunidade e 20% é dividido entre as famílias. Dentro do nosso projeto café, a gente já tem uma pequena estrutura com o recurso através do PGTA. Tudo que aprendemos no seminário vamos colocar na prática, de como melhorar a produção do nosso café como podemos trabalhar, ampliar e melhorar a produção, a fim de  que a gente possa ter uma boa produção, poder estar mostrando o nosso potencial, e a qualidade do nosso café Kuinan. Então, fica aqui os nossos agradecimentos”.

No último dia, o encontro contou com a participação dos órgãos como: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa), SEAP, Instituto Insikiram, Agência de Defesa Agropecuária (ADERR), Secretaria Agricultura, que esclareceram sobre a certificação do café, o trabalho que é todo artesanal,  agregar valor no histórico do café da mangueira.

“Nós, do IEB, ficamos muito felizes em contribuir nessa etapa de fortalecimento do trabalho desenvolvido há 30 anos pelos indígenas da TI Mangueira, com a produção, beneficiamento e comercialização do café. Aceitamos de pronto, e com muita honra, o convite do CIR para condução metodológica da oficina, por ter muita clareza que esse percurso de implementação do PGTA – da TI mangueira – favorece o planejamento coletivo e o diálogo intergeracional. Ficamos todos/as muito satisfeitos com o resultado que se desdobrou num plano de ação com 16 metas a serem cumpridas nos próximos anos, para alavancar o café indígena da forma que os indígenas optarem”, comentou sobre o encontro Bianca Ferreira, analista socioambiental do Programa Cerrado do IEB.