O Conselho Indígena de Roraima (CIR), por meio do Departamento de Comunicação, realizou o Encontro da Rede de Comunicadores da Rede Wakywai. O evento foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de outubro, na Comunidade indígena, Serra da Moça, região Murupú, município de Boa Vista. O encontro contou com a participação de cerca de 30 comunicadores das regiões: Serra da Lua, Tabaio, Murupú, Serras, Raposa, Baixo Cotingo, Surumú, Amajarí e São Marcos. Além do Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRSS), dos povos: Macuxi, Wapichana, Taurepang e Yekuana.
O evento também contou com a Oficina de Produção Textual, com Luana Luizy, assessora de comunicação do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Nailson Almeida. Onde os comunicadores, trabalharam na prática a produção de texto e ao final da oficina apresentaram o resultado de cada trabalho.
O encontro encerrou-se no dia 27 de outubro com a oficina de produção de cards, com o comunicador Jacyr Souza do povo Macuxi e discussão sobre “Etnomídia indígena, fortalecendo as nossas redes de comunicação”, com Anapuaka Tupinambá, comunicador e criador do conceito de etnomídia.
Alexandro Chagas, do povo Wapichana, disse que a batalha caminha para 12 anos como Tuxaua da comunidade Serra da Moça, que é também terra indígena. e segue para oito anos como coordenador regional titular. A comunidade, liderada por Chagas, tem uma grande variedade de produtos agrícolas, onde cresce a valorização da medicina tradicional. A região conta com cinco comunidades: Serra da Moça, Serra do Truaru, Cabeceira do Truarú, Anzol e Morcego.
Para a comunidade, foi um privilégio e uma honra receber o encontro dos comunicadores, com pessoas de outras regiões, compartilhar as informações e trocar conhecimentos. “Muitos não conheciam a região Murupu, comunidade Serra da Moça. Foi uma oportunidade de acompanharem, conhecer e levar também informações”. O tuxaua reforçou, sempre que for necessário eles estarão as portas da comunidade vão estar aberta para a realização dessas oficinas, nesse sentido, assim como outras também. Foi importante o evento, porque fortalece todo nosso trabalho na base, na região levando assim também a apoio ao CIR, que também precisa dessas informações, para que possa defender, lutar pelos direitos indígenas”, completou a liderança
Continuou destacando que, “as oficinas da rede de comunicadores Wakywai, é uma forma de transmitir a história dos povos indígenas, a cultura dos povos indígenas. E é importante que tenha esses comunicadores na base. E através do departamento de comunicação do CIR, no sentido de apoiar de ajudar, divulgar todas as situações a realidade da comunidade indígena hoje, quanto a produção, saúde, educação, território, uma forma de transmitir para a sociedade. Nós como indígena enfrentamos hoje dentro do nosso território, os desafios, as ameaças, invasões, o avanço da monocultura, é uma forma de pegar essas informações e divulgar. Todo esse trabalho vem sendo importante por meio do CIR”.
A palestra de abertura foi com a coordenadora do departamento de comunicação do CIR, Márcia Fernandes, do povo Wapichana. Logo em seguida, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir a experiência do comunicador de forte renome nacional, Anapuaka Tupinambá, ele que é criador da primeira rádio web indígena do Brasil, a Rádio Yandê, e do conceito de etnomídia indígena no Brasil. Anapuaka acompanhou o encontro durante os três dias. Participou de várias etapas, criou dinâmicas com comunicadores indígenas. Considerou o evento maravilhoso, projeto fantástico. No primeiro momento fez um questionamento, de como está a comunicação indígena no Brasil.
“Fiquei impactada de encontrar junto de um grupo de comunicadores indígenas na região norte do País, que tem uma diversidade étnica mais que uma colaboração, pessoas fundamentadas, compromissadas com a comunicação indígena. Foi uma demanda tão grande de aprendizado de ambos, que foi a reciprocidade desses comunicadores de diversas comunidades de Roraima, nos traz a consciência de que é uma pauta mais que necessária, ao um tema contundente e tem que ser fortalecida. Uma temática que durante muitos anos que os movimentos indígenas de base, e o movimento nacional indígena não tinha como um fundamento para as bases e nacional. Lutas dessa base que hoje é cada vez mais é braçada por várias gerações. Essa geração que eu posso dizer com toda propriedade, deve ser a quarta geração de comunicadores indígenas desde os anos 80. Mas elas abraçam e chegam com muita energia. Eu fico muito feliz de estar aqui para poder colaborar falando da etnomídia indígena”.
Edinho Batista, coordenador geral do CIR e a coordenadora estadual do Núcleo da Juventude, Raquel Wapichana, participaram do evento. Além do coordenador regional do Murupú, Alexsandro Chagas, Geneide Santos, coordenadora técnica da Medicina Tradicional do CIR, destacou a atuação da equipe Emergencial do CIR no combate à Covid-19. A coordenadora regional da Medicina Tradicional do Murupú, Keila Chagas, falou sobre a importância da produção nas comunidades e fez uma demonstração da fabricação do medicamento.
Charlene Cruz, do povo Wapichana, é comunicadora há cinco anos na região Serra da Lua. Iniciou em 2018, pela Escola Indígena, Professor Ednilson Lima Cavalcante na comunidade Tabalascada. Já em julho de 2019 iniciou a atuação na comunicação pela região na primeira oficina de Protocolo de Consulta, que era realizada na comunidade Moskow.
“A oficina dos comunicadores indígenas da rede Wakywai pra mim é muito importante, porque nós somos as vozes de visibilidade indígena, nesse momento de pandemia, que enfrentamos. A comunicação é uma das ferramentas que podemos usar, nesses embates para mostrar a nossa diversidade cultural sustentável, no combate as fake news . Nessa oficina podemos ver que a medicina tradicional não deve ser trabalhada somente pelos senhores e pelas senhoras de terceira idade, mas, nós, da juventude, comunicadores também devemos estar bem preparados para repassar as informações, preparados para combater as fake news diante do conhecimento tradicional e milenar do nosso povo, o nosso trabalho enquanto comunicadores e quanto movimento indígena também”, destacou Charlene.
Fotos; Comunicadores da rede Wakywai