Seminário na T.I Raposa Serra do Sol pede fim da violência contra a Mulher e aborda Empoderamento Feminino Indígena

O Conselho indígena de Roraima levou em parceria com Ford Foundation e USAID ao Centro Regional Lago Caracaranã, de 22 a 23 de outubro, o Seminário Estadual mulheres indígenas, com o tema Direitos, Seguranças, Violências e Autoestima para a Gestão do Território indígena.

O evento contou com a participação da Coordenação Executiva do CIR, Departamento de Gestão Territorial e Ambiental, Departamento Jurídico, Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas, Coordenação da Juventude Indígena de RR, Coordenadoras de mulheres indígenas das regiões Serra Da Lua, Raposa, Baixo Cotingo, Surumu, Serras, Alto Cauamé e Murupu, Diocese de Roraima, Casa da mulher Brasileira, FIOCRUZ, Podcast Cunhatã – UFRR, CRAS Cantá, Conexão Puxirum, Vulva Criativa, Mãe da lua e Secretaria do Índio.

As lideranças trouxeram à tona os problemas que têm enfrentado, não menos importante, mostraram também de que forma tem solucionado os dilemas em suas regiões e comunidades.

 

O evento reuniu cerca de 200 participantes dos povos Macuxi, Wapichana, Taurepang e Patamona, e discutiu entre outros assuntos canais de denúncia, direitos das mulheres, Lei Maria da Penha, medidas de proteção, empoderamento feminino, acolhimento de mulheres que sofrem violência doméstica, violência psicológica, depressão e suicídio.

Em suas falas embargadas muitas vezes pela dor de um dia já terem passado por situações difíceis, mas firmes por serem sobreviventes, as mulheres pontuaram onde e como a violência vem afetando as comunidades indígenas, sendo a bebida alcoólica um dos principais catalisadores de agressões, para além disto, as lideranças parabenizaram o CIR, pelo incentivo e apoio principalmente em questões psicólogas, conhecimento jurídico e empoderamento.

E falaram sobre suas medidas de proteção interna, casos em que o Grupo de Vigilância Territorial Indígena – GPVTI, muitas vezes liderado por mulheres, atuava junto a polícia em casos de agressão doméstica.

“Realizávamos diligências junto a polícia civil, chegamos a lidar com criminosos de facção, assaltantes que adentravam na Comunidade da Região Serra da Lua.

E Homens que agrediam suas esposas, chegamos a expulsar um agressor recorrente, é difícil fazer isto, mas temos o regimento interno.  Além de orientação da polícia passamos cinco dias em um dos cursos com o Jurídico do CIR, temos noção do trabalho de GPVTI.”

Disse Alcinda Pinho Cadete, povo Macuxi, da Região Serra da Lua.

 

Maria Betânia, Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas do CIR, exaltou a importância da fala das mulheres e de suas estratégias diante de cenários sobrecarregados de autoritarismo.

“Lidamos com nossas emoções, sabemos como agir sempre no momento certo, determinamos o que somos, o que valorizamos e queremos, dependendo da forma como encontramos nosso cotidiano e as situações vividas.”

Disse Maria as mulheres presentes.

Iterniza Pereira, do povo macuxi, é psicóloga no CIR, atende a pelo menos dois anos as comunidades, segundo ela tem havido um aumento em casos de violência doméstica, abuso a menores de idade, gravidez precoce e depressão.

“É uma preocupação para nós que estamos na linha de frente, para a lideranças, e ao CIR.

O CIR visa pautas e projetos que trazem medidas de prevenção, inclusive ao adoecimento psicológico, estes são só alguns dos fatores para a realizarmos o seminário.” Afirmou Iterniza.

Uma das importantes colaborações foi a da representante da FIOCRUZ, Alessandra do Santos, que disse

“É importante a participação da FIOCRUZ em eventos dessa natureza, para que a gente ouça e traga elementos para ajudar essas mulheres a construir estratégias para que elas possam tornar o território um pouco mais fortalecido, menos vulnerabilizado, descobrindo novas tecnologias. Quando lidamos com uma diversidade de território precisamos entender a complexidade de cada um.” Frisou Alessandra.

Adriã Galvão, Podcast Cunhatã da Universidade Federal de Roraima, falou da experiência de estar no meio de tantas mulheres que enfatizam seu posicionamento e de como dois dias de vivência lhe trouxe novas reflexões

“Ver outras mulheres trazendo diferentes pontos que envolvem mulheres indígenas, não é comum no dia a dia, principalmente no ambiente urbano. Para mim foi revigorante, importante, potente com muita energia, estar envolvida por mulheres, tão fortes, poderosas, engajadas na luta por terra, educação e saúde, foi uma experiência única incrível e potencializadora.” Afirmou Adriã.

No fim do Seminário as lideranças em grupos de trabalho realizaram a confecção de estratégias para dentro das comunidades comprometendo-se cumprir e discutir com os jovens e homens importantes também nesta equação, um ato pedindo o Fim da Violência contra a Mulher foi realizado onde todas pintaram e mancharam a faixa de forma simbólica.