Parceria leva capacitação para pecuária sustentável na Raposa Serra do Sol

Curso foi realizado pelo projeto Bem Viver (CIR/IEB/NCI) em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária  de Roraima (ADERR); participaram mais de 70 indígenas de 27 comunidades

Mais de 70 lideranças de 27 comunidades das Terras Indígenas Raposa Serra do Sol e São Marcos participaram nesta semana de uma formação em saúde animal para atuação em programa de pecuária sustentável. O curso, que se encerrou nesta sexta-feira (4), foi realizado pelo Projeto Bem Viver, desenvolvido pelo Conselho Indígena de Roraima, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Natureza e Cultura e Internacional, em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr).

A capacitação de 40h foi no Centro Indígena de Formação e Cultura Raposa Serra do Sol (CIFCRISS). Os cursistas, dos povos Macuxi, Wapichana, Patamona, Wai Wai e Yekuana, receberam instruções sobre manejo de gado, como aplicação de vacinas, vermífugos e castração,  adotando boas práticas para o bem estar animal. As aulas práticas foram realizadas em um centro de manejo construído por voluntários das próprias comunidades com apoio do Projeto Bem Viver.

A formação foi a primeira atividade a ser realizada a partir de um termo de cooperação técnica firmado entre o Projeto Bem Viver e a Aderr. A parceria busca apoiar a pecuária indígena na TI Raposa Serra do Sol, que é praticada há mais de 40 anos pelos indígenas e garante autonomia territorial e segurança alimentar às comunidades, além de ser importante para a economia do estado.  Atualmente, conforme a Aderr, o rebanho bovino nos territórios indígenas de Roraima, incluindo criações comunitárias, soma 85 mil cabeças, o que corresponde a quase 10% do total do estado. 

“Nesse curso nosso objetivo foi levar técnicas de manejo que garantem um rebanho sanitariamente seguro e de qualidade para quem também vai consumir essa carne”, disse o instrutor Sylvio Botelho, que é médico veterinário e fiscal agropecuário da Aderr.“O rebanho dos indígenas é numeroso, e é onde você tem uma grande porcentagem de fêmeas que parem o ano inteiro, tornando o lavrado um grande berçário produtor de bezerros”.

Reinaldo Lourival, biólogo do Projeto Bem Viver, ressaltou que nessa região a pecuária indígena é feita em ecossistema de lavrado nativo, sem o impacto do desmatamento. 

Uma análise conduzida pelo Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) em parceria com o Projeto Bem Viver mostrou que enquanto o lavrado como um todo, por causa da mudança do uso do solo nessa região, é um emissor de gases do efeito estufa, as TIs Raposa e São Marcos removem carbono da atmosfera. Isso significa que, em termos de balanço de carbono, elas estão equilibrando aquilo que o agronegócio, o desmatamento, está mandando para a atmosfera.

“Isso mostra que a gestão dos indígenas sobre esses territórios é sustentável mesmo com a pecuária”, disse Lourival.

Indígenas que participaram do treinamento destacaram o diferencial da atividade.“Eu nunca tinha participado de um curso desse e realmente é um aprendizado para cada um de nós”, disse Eduardo Afonso, do povo macuxi. “Vamos pegar essa experiência e aplicar nas nossas comunidades”.

“Para mim foi complementação no que já aprendi, porque foi um curso onde tivemos a parte teórica e a parte prática então isso fixa ainda mais o conhecimento em nós, como alunos”, disse Laiane Dias, indígena Macuxi formada em técnica em agropecuária pelo Instituto Federal de Roraima (IFRR). 

Iniciado em 2019, o projeto Bem Viver é voltado para a construção dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA’s) das Terras Indígenas Raposa Serra do Sol e Wai Wai, ambas em Roraima. O PGTA é um documento formal que serve para registrar o plano de vida das comunidades indígenas, além de nortear políticas públicas, com ênfase no bem estar coletivo e na gestão de recursos naturais para as futuras gerações. 

O Projeto Bem Viver é realizado a partir de um consórcio entre as Organizações Não-Governamentais Conselho Indígena de Roraima (CIR), Instituto de Educação do Brasil (IEB) e Natureza e Cultura Internacional. O recurso para as atividades é oriundo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID).