Em 2021 CIR fez 50 anos e uma trajetória de luta e resistência pelos direitos dos povos indígenas de Roraima

Em 2021, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) celebrou seus 50 anos existência. De lá para cá foram cinco décadas de conquistas, mais acima de tudo de muitas lutas e resistência. Toda essa história teve início da década de 1970. Naquela época, os povos indígenas viviam e ainda vivem até hoje uma forte opressão de fazendeiros e garimpeiros que até hoje continuam invadindo nossas terras.

Foi uma época muito dura, no qual as comunidades se sentiram hostilizadas, pois eram proibidas de caçar, pescar dentro de suas próprias terras e ainda tinham suas roças destruídas. Muitas crianças foram tiradas de suas famílias e obrigadas a trabalharem em fazendas e garimpos. Outro mal levado pelos não indígenas para dentro das comunidades foi à bebida alcóolica, que gera até hoje muitos conflitos e violência.

A área de atuação do Conselho Indígena de Roraima (CIR) abrange as 35 terras indígenas de Roraima, com uma extensão de mais de 10 milhões de hectares, onde vive uma população de 58.000 indígenas em 465 comunidades em todo o estado de Roraima, das etnias Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona, Sapará, Taurepang, Wai-Wai, Yanomami, Yekuana e Pirititi. A atuação direta do CIR se desenvolve através dos 10 conselhos regionais que formam sua base de atuação, envolvendo as etnorregiões das Serras, Surumú, Baixo Cotingo, Raposa, Amajarí, Wai-Wai, Tabaio, Serra da Lua, Murupú e Alto Cauamé e uma população em torno de 30.000 habitantes distribuídos em 255 comunidades indígenas associadas.

Atualmente, o CIR compõe-se de Departamentos: Departamento Administrativo Financeiro, Departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA), Jurídico. Comunicação, Projetos, Núcleo da Juventude e Secretaria geral das mulheres indígenas.

Formação dos Conselheiros e a decisão do Vai ou Racha

Após muitos anos de sofrimentos, em janeiro de 1971, as lideranças das comunidades e regiões decidiram se unir e realizaram um grande encontro, essa foi a primeira Assembleia dos Tuxauas. A reunião ocorreu na comunidade Barro, região Surumú, local onde tudo começou. Todos os anos os tuxauas se reuniam para debater e tentar resolver algumas situações. Porém, os problemas permaneciam e os conflitos pelo território ficavam cada dia mais violento e sangrento. Muitos parentes foram expulsos de suas casas, outros perderam a vida lutando e defendendo aquilo que lhe era de direito, a Terra.

Em 26 de abril de 1977, na comunidade indígena Maturuca, região Serras, Terra indígena Raposa Serra do Sol, veio a principal decisão que marcou o recomeço para as comunidades indígenas. Foi a assembleia do “Vai ou Racha”. Foi nesse encontro que os indígenas se uniram para dizer não à bebida alcóolica e sim à comunidade. Dessa decisão, surgiram os conselhos regionais que ajudavam a resolver os problemas e fortaleciam a organização entre as comunidades.

Importante lembrar de 1971 a 1989, havia as importantes articulações com um pequeno grupo de indígenas, estes eram chamados de Conselheiros. E cada região tinha o seu conselheiro. Um dos primeiros foi o tuxaua Gabriel Macuxi, da região Raposa. O tuxaua Gabriel buscava apoios com os parceiros para apoiar as comunidades indígenas conforme as suas necessidades.

No ano de 1980, com a chegada do projeto “Uma vaca para o índio” de criação comunitária de gado, possibilitou a reconquista da terra e fortaleceu a autonomia das comunidades. Já em 1986, os conselhos regionais passaram a ter uma sede em Boa Vista-RR para facilitar a articulação por políticas públicas e direitos indígenas. Principalmente nas áreas de saúde e educação. E então foi criada uma organização de abrangência estadual, o Conselho Indígena do Território de Roraima (CINTERR). Já criação formal do CIR ocorreu em 30 de agosto de 1990 devido à emancipação do Território para Estado de Roraima na Constituição Federal de 1988.

Desde o início, principal bandeira do movimento, foi a luta pelos territórios. A demarcação de Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que foi uma luta travada pelas lideranças por mais de 30 anos e isso foi o símbolo dessas conquistas. A demarcação e homologação foi um marco legal e político para os direitos indígenas no Brasil. Atualmente, o CIR representa 255 comunidades e também defende os direitos de mais de 70 mil indígenas de 10 povos.

Vale destacar, além de grandes lutas há também importantes conquistas como: na educação, na formação de professores indígenas através do Magistério e também com a criação do Instituto Insikiran e na saúde com a formação de Agentes Indígenas de Saúde – AIS. Houve também a implantação do Grupo de Proteção e Vigilância Territorial – GPVIT nas comunidades.

Para atingir estes objetivos, o CIR no decorrer dos anos vem desenvolvendo diversas atividades na área da saúde, educação, cultura, gestão ambiental, promoção social, desenvolvimento sustentável e participação nas políticas públicas, respeitando a organização social e cultural dos diversos povos indígenas do estado. O CIR é uma das organizações indígenas mais ativas no Brasil, com atuação local, regional, nacional e internacional.

VEJA A LISTA DOS COORDENADORES NOS ÚLTIMOS 30 ANOS ANOS:

1ª Coordenação – 1989 a 1990

Coordenador geral – Terêncio Luiz Silva – Macuxi – região Surumú
Vice-coordenador – Jacir José de Souza – Macuxi – região Serras

2ª Coordenação – 1990 a 1992

Coordenador geral – Clóvis Ambrósio – Wapichana – região Serra da Lua
Vice-coordenador –Valdir Tobias

3ª Coordenação – 1993 a 1994

Coordenador geral – Euclides Pereira – Macuxi – região Surumú
Vice-coordenador – Clóvis Ambrósio – Wapichana – região Serra da Lua

4ª Coordenação – 1995 a 1996

Coordenador geral – Nelino Galé – Macuxi – região Baixo Cotingo
Vice-coordenador – José Adalberto – Macuxi

5ª Coordenação – 1997 a 2000

Coordenador geral – Jerônimo Pereira – Macuxi – região Tabaio
Vice-coordenador – Desmano de Souza – Macuxi – região Raposa

6ª Coordenação – 2001 a 2005 – dois mandatos

Coordenador geral – Jacir José de Souza – Macuxi – região Serras
Vice-coordenador – Noberto Cruz – Wapichana – região Serra da Lua

7ª Coordenação – 2005 a 2006

Coordenador geral – Marinaldo Trajano – Macuxi – região Baixo Cotingo
Vice-coordenador – Jairo da Silva – Macuxi – região Murupú

8ª Coordenação – 2007 a 2009

Coordenador geral – Dionito José de Souza – Macuxi – região Serras
Vice-coordenador – Terêncio Salomão – Wapichana – região Serra da Lua

Secretaria-Marizete de Souza- Macuxi- Região Serras

9ª Coordenação – 2011 a 2017 – três mandatos

Coordenador geral – Mário Nicácio – Wapichana – região Serra da Lua
Vice-coordenador – Ivaldo André – Macuxi – região Serras

Secretária-Telma Marques- Taurepang- região Amajarí

10ª Coordenação – 2017 a 2019

Coordenador geral – Enock Tenente – Taurepang –região Amajarí
Vice-coordenador – Edinho Batista – Macuxi – região Serras

Secretária- Maria Bethânia Mota de Jesus- Macuxi- Região Amajarí

11ª Coordenação – 2021 – mandato em vigência

Coordenador geral – Edinho Batista – Macuxi – região Serras
Vice-coordenador – Enock Tenente – Taurepang – região Amajarí

Secretaria – Maria Bethânia Mota de Jesus- Macuxi- região Amajarí.

A matéria teve a colaboração do comunicador indígena, Nailson Almeida/ rede Wakywai.