Carta do II Acampamento Terra Livre do movimento indígena de Roraima

Foto: Genisvan Macuxi

Nós, povos indígenas de Roraima, nos reunimos com mais de duas mil pessoas dos povos Wapichana, Macuxi, Taurepang, Ingarikó, Patamona, Sapará, Wai-Wai, y’ekuana, no II Acampamento Terra Livre/ Roraima, com o tema: LUTA PELA VIDA, que iniciou no dia 22 e segue até 02 de setembro de 2021, na Comunidade indígena Sabiá, Terra Indígena São Marcos. Participam lideranças, mulheres, professores, jovens, crianças, agentes de saúde indígena, GPVITIs, professores e tuxauas, todos com um único objetivo: A LUTA PELA VIDA.

Para chegar onde estamos hoje, foram necessárias muita organização, luta e resistência. Somos povos organizados como movimento indígena há mais de 50 anos em defesa dos nossos direitos. Neste atual cenário infelizmente estamos sofrendo fortes ataques por parte do governo anti-indígena, por isso, REPUDIAMOS todas as ações do governo federal para desmontar a SESAI, a FUNAI, a educação indígena e todas as políticas públicas a que temos direitos. Além de ameaçar e violar a todo o momento nosso direito à terra. Não iremos nos calar. Nossa mobilização é legítima, pacífica, estamos dentro da nossa terra para lutar contra o marco temporal e todos os retrocessos que ameaçam os nossos direitos.

Reafirmamos a importância da nossa terra para o nosso bem viver. Sem ela não criamos e nem produzimos a nossa sustentabilidade. A terra é a nossa mãe, é vida. Por isso defendemos nossos direitos originários. As terras que tradicionalmente ocupamos, é nossa. Queremos defender a nossa forma de organização e reafirmar que a sustentabilidade é a defesa do meio ambiente, é isso que fazemos em nossos territórios. Temos diversos projetos de desenvolvimento, por exemplo, o projeto do gado. Temos nossas criações e plantações, ninguém passa fome em nossa terra. Não somos contra o desenvolvimento, ao contrário, defendemos um projeto de desenvolvimento que dá certo, e não aquele que exclui. Defendemos um projeto de desenvolvimento que proteja o meio ambiente e que defenda a natureza. Por isso, a demarcação de terras indígenas é importante não só para a vida dos povos indígenas é para todos.

REPUDIAMOS o desmonte das políticas públicas e de nossos direitos à saúde, à educação, principalmente à terra. A FUNAI, a SESAI, a educação indígena estão sendo desmanteladas pelo governo federal. No Congresso Nacional, uma série de projetos de lei ameaçam a nossa vida e os nossos territórios. Lutamos contra o PDL 28/2019, o PL 191/2020, PL 490/2007 e todos os demais projetos que impedem a demarcação de terras indígenas, para liberar a mineração, o arrendamento em nossos territórios, e diminuir terras já demarcadas. A nossa luta é para que não haja mais destruição e invasão de nossos territórios.

Estaremos mobilizados e acampados até que seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal o caso dos parentes Xokleng, que também vai determinar o futuro de todos povos indígenas do Brasil. REPUDIAMOS e dizemos em uma só voz, NÃO AO MARCO TEMPORAL e sim à VIDA. Nossa história não começa em 1988, somos originários dessa terra e sofremos a invasão de nossos territórios desde 1500. Esperamos que o STF cumpra o que já foi garantido e conquistado na Constituição Federal de 1988, com muita luta e sangue derramado. Os povos indígenas de Roraima se manifestam contra a tese do marco temporal e confia na justiça brasileira para que seja reafirmada a garantia do direito originário à terra dos povos indígenas.

Movimento indígena de Roraima