CIR realiza a 2ª oficina para estudo caso sobre mudanças climáticas da TI Raposa Serra do Sol

O Departamento de Gestão Territorial e Ambiental (DGTA), do Conselho Indígena de Roraima (CIR), realizou nesta quinta e sexta-feira (08 e 09) na prelazia em Boa Vista, a 2ª oficina do Estudo de Caso de Mudanças Climáticas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS). Foi mais uma atividade realizada junto aos Agentes Territoriais e Ambientais Indígenas (ATAIs) que fazem a coleta de campo, com a equipe do DGTA, para futura sistematização e publicação do estudo.

A Terra Indígena Raposa Serra do Sol é uma das maiores do Estado de Roraima, e a luta por sua demarcação foi emblemática para o Brasil e para o mundo. Atualmente, são cinco etnoregiões na TIRSS: Raposa, Baixo Cotingo, Serras, Surumu e Ingarikó. Desde 2011, o CIR realiza esses estudos de casos das mudanças climáticas nas comunidades indígenas. O primeiro estudo de caso foi feito na região Serra da Lua.

O estudo, que é realizado junto aos ATAIs, é essencial no levantamento de informações. O objetivo é obter uma percepção feita pelos próprios indígenas, que são os pesquisadores, que fazem o trabalho de ouvir, de sentir, de olhar, de saber junto com os mais experientes, com os jovens e mulheres. É uma percepção ao longo de 20 anos, que visa observar como era 20 anos atrás nas comunidades e como está sendo atualmente na vida social, cultural, rituais e lugares sagrados, envolvendo ainda a questão das mudanças climáticas, e o tema da sustentabilidade.

A coordenadora do DGTA, Sineia do Vale, do povo wapichana, explica que esse trabalho foi importante para a elaboração do Plano de Enfrentamento às Mudanças Climáticas que hoje faz parte do Plano Nacional (PN) de Adaptação às Mudanças Climáticas. Ela participou de várias interfaces através da câmara técnica de mudança climática com o ministério do meio ambiente. Hoje, em razão da pandemia, os trabalhos da câmara estão suspensos, mas os povos indígenas deram continuidade em campo.

“Continuamos a discutir isso no Comitê Indígena de Mudança Climática em Roraima, que é um trabalho que a gente tem feito junto aos povos indígenas, para que nós tenhamos além dos planos de gestão territorial, o plano de enfrentamento às mudanças climáticas dos povos indígenas”, explicou.

Um dos participantes da oficina na Prelazia foi Alan Melo, do povo Macuxi, comunidade indígena Táxi II, região Surumu. “Saímos para pesquisar, explorar e conhecer a fundo a realidade da nossa comunidade, vejo um bom trabalho. Existem na nossa comunidade muitos anciões que já viveram que já presenciaram este acontecimento. É bastante prazeroso obter informações sobre o que está mudando, porque já o que mudou dos 20 anos para cá, como por exemplo o crescimento da população”.

“A percepção que tive nas comunidades indígenas, no centro da região da Serra é que o tempo não é mais como antes, nas comunidades a perda de sementes, a caça e a pesca também diminuiu bastante. Tem comunidade que hoje vive com pouca produção de sementes tradicionais. Aumentou a população nas comunidades, está crescendo e, assim vamos percebendo que esse tempo mudou bastante, o inverno já não é mais como antes, a gente percebe que mudou bastante esse clima durante 20 anos.  A situação dessas transformações do tempo aí nas comunidades, os igarapés estão secos, já não existe mais. E também o desmatamento, só dá mesmo para fazer uma roça na capoeira, não tem mais aquela mata grande e, assim a gente viu que mudou muito”, descreveu outra participante da oficina, Daiane da Silva, Macuxi, da comunidade Piolho, região Serras.

A atividade contou ainda com a assessoria técnica de Alessandro Oliveira, doutor em antropologia. O coordenador geral do CIR, Edinho Batista, vice coordenador, Enock Taurepang e a Secretária Geral do Movimento de Mulheres Indígenas, Maria Betânia, estiveram fortalecendo os participantes.  A ação é apoiada pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS).