POVOS INDÍGENAS DA TI PIUM RESISTEM EM SEU TERRITÓRIO ENQUANTO AGUARDAM PROCESSO DE DEMARCAÇÃO

Famílias indígenas dos povos Macuxi, Wapichana e Sapará que vivem na comunidade Pium denunciam invasões de seu território enquanto aguardam a inclusão de novas áreas na demarcação da Terra Indígena de mesmo nome, localizada na região Tabaio, município de Alto Alegre.

Demarcada nos anos 80 pela FUNAI, a TI teve sua área diminuída pela pressão de posseiros. A demarcação não levou em consideração os recursos naturais do território, como a nascente dos igarapés da comunidade, que são fundamentais para a sobrevivência física e cultural dos povos.

Visão aérea do local

Por isso, há um pedido de estudo da área demarcada protocolado na FUNAI desde 2000. No entanto, recentemente, um suposto proprietário entrou com ação judicial contra os indígenas da comunidade Pium questionando o usufruto daquela mesma área pelos indígenas.

De acordo com os moradores, as invasões e as ameaças se intensificaram nesse ano, por causa da área que é de posse da comunidade, mas ainda está em processo de demarcação. Os moradores relataram que em abril, dois fazendeiros procuraram as lideranças da comunidade afirmando ter comprado o terreno. Imediatamente, eles começaram a fazer o aradado no local para fazer plantio de soja dentro da área demarcada e também da área de retomada, que é um espaço de uso coletivo da comunidade.

Senhor Evaristo com anotações sobre a demarcação
Evaristo das Chagas, liderança tradicional

As lideranças contam que área que os fazendeiros alegam que são proprietários, mas que aquela área sempre foi de uso tradicional dos povos indígenas da comunidade. Inclusive há antepassados sepultados no local e os moradores estão há pelo menos 30 anos fazendo o usufruto do espaço para atividades de subsistência como plantio, pesca e caça.

Marcio Cleito, atual Tuxaua da Comunidade Pium

O Senhor Elias Bento, liderança da região, disse que uma das principais preocupações é que o plantio da soja afete a nascente do igarapé Pium, que ainda possui mata ciliar preservada.

“Nossa terra está pequena e não podemos perder o que já é ocupado por nós. Nosso dever é proteger para as gerações futuras”, disse Elias Bento.

“Queremos a nossa terra, se ficarmos sem as nascentes dos igarapés, como vamos viver? Nós pescamos nesses igarapés e lagos”, disse dona Nadis da Silva, moradora da comunidade, da etnia Macuxi. “As plantas que existem aqui também são medicinais e usamos bastante, essa terra é nossa, vamos lutar por ela até o fim”.


O tuxaua da comunidade, Márcio Cleito, da etnia Macuxi, também denuncia a situação. “Hoje ainda temos uma água limpa e saudável, que consumimos a qualquer hora, mas os fazendeiros querem tomar, destruir a nossa mãe natureza e nós não vamos permitir”, afirmou.

Senhor Evaristo das Chagas, uma das lideranças mais antigas da comunidade Pium, também relembra o passado de invasões. Ele mora na comunidade desde 1974, foi tuxaua de 1977 a 1986 e disse que naquela época outras famílias indígenas tiveram que ir embora, porque as áreas livres ficaram muito pequenas em razão da presença de invasores. Na época, haviam 14 moradores indígenas na região que viviam em constante ameaça. As crianças indígenas eram aliciadas para trabalhar nas fazendas e não havia posto de saúde, escola e nem igreja. Quando cultivavam roças, as famílias da comunidade também tinham prejuízo porque o gado dos posseiros destruía suas plantações.

“Demarcar a terra da comunidade Pium foi um problema sério. Os indígenas sofriam muitas ameaças”, relembrou o tuxaua.

Malocão sede da Comunidade PIUM, Região Tabaio

Atualmente, a Terra Indígena Pium tem 4.607,6137 hectares e uma população de 470 pessoas (118 famílias), a maioria crianças (101) e jovens (85). A principal forma de subsistência é a agricultura familiar, pesca, caça e criação de animais de pequeno porte. As famílias também praticam o extrativismo da polpa do buriti, venda de artesanatos e possuem ainda duas fazendas com quase 200 reses.