Sem ação do governo, comunidades indígenas de Roraima reativam barreiras sanitárias para conter o avanço da covid-19 e combate ao garimpo ilegal

A segunda onda da pandemia da Covid-19 voltou com mais força ameaçando centenas de comunidades indígenas em Roraima.  Diante da omissão por parte do governo que não tomou nenhuma medida efetiva para construção de barreiras sanitárias. Aliado a esse grave problema, o garimpo ilegal avança nos territórios indígenas.  Preocupados,  em decisão coletiva as comunidades decidiram reativar as barreiras sanitárias, ao mesmo tempo fazer o monitoramento territorial realizando o controle de entrada e saída de pessoas,  além de combater a entrada de bebidas alcoólicas e de outros produtos ilícitos nas terras indígenas. 

 Lideranças do Grupo de Proteção e Vigilância Territorial (GPVIT), jovens, mulheres e homens se unem em um ato de coragem e resistência na vigilância dos territórios para o bem viver das presentes e futuras gerações. “A barreira é para proteger os nossos familiares”, disse seu Dionísio Mambaru, tuxaua da comunidade da Uirapuru, região Raposa.

Barreira São Mateus, região Serras, município de Uiramutã. Foto: comunicador Jacir Filho.

Até o momento são doze barreiras de monitoramento que estão localizadas nas terras indígenas Raposa Serra do Sol e Malacacheta: Barreira Armando Silva (comunidade indígena Uiramutã), barreira Tuxaua Geraldo (comunidade Lilás), Posto de Vigilância Tabatinga (Centro Pedra Branca), Barreira na comunidade Pedra Branca, Barreira 25 de Abril de 1977 (São Mateus), barreira da comunidade Piolho. Na região Raposa foram instaladas as barreiras de Coqueirinho na RR-319, Barreira sanitária Linha Seca, vicinal Ipú, limite com o município de Normandia, Santa Cruz na Vicinal Lameiro, Barreira sanitária na Jacarézinho na BR 433. Na região Serra da Lua há apenas a barreira da comunidade Malacacheta, no município de Cantá.

Barreira da Comunidade Malacacheta, região Serra da Lua, município de Cantá. Foto: Vanessa Fernandes.

“As barreiras foram reativadas pela questão do crescimento da pandemia da Covid-19, entrada de pessoas sem terem feito teste, trazendo essas doenças para as comunidades através de turismo, garimpo, outras atividades ilegais dentro das terras indígenas”, disse a liderança Edinaldo Pereira André, do povo macuxi.

Barreira da comunidade indígena Linha Seca, região Raposa, Município de Normandia.

Sobre o Posto de Monitoramento Territorial 26 de abril de 77 as lideranças encaminharam uma nota para a FUNAI, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, Polícia Rodoviária Federal, Policia Federal, Exercito Brasileira e as organizações indígenas, CIR, OPIRR, OMIR, explicando os da reativação da barreira sanitária.

Uma das barreiras da região Raposa fica na ponte sobre o Rio Viruaqui na RR 319 e dá acesso a mais de dez comunidades indígenas e segundo os moradores é a rota usada por garimpeiros.

Barreira do Coqueirinho, na RR 319 sobre Ponte o Rio Viruaqui que dá acesso a mais de dez comunidades indígenas. Foto: Paulo Ricardo

A luta dos povos indígenas é coletiva, e a juventude anda lado a lado com as suas lideranças tradicionais. Um deles é o jovem Paulo Ricardo, da etnia Macuxi, e atualmente coordenador da juventude na região Raposa. “Essa responsabilidade não é só dos seguranças, e sim de todas as crianças, jovens, mulheres, homens entre outras. A fiscalização não é só no combate a Covid-19, é também contra o garimpo ilegal, continuaremos firmes e fortes”.

Segundo o último levantamento da COIAB, em Roraima a Covid-19 já tirou 105 vidas de indígenas entre os povos Macuxi, Pemom, Wapichana, Turepang, Wai Wai, Warao e Yanomami. .