Produção orgânica tradicional se destaca na Região Raposa

Tendo um histórico de luta territorial dos povos tradicionais, a região Raposa localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, apresenta áreas de produção com ampla capacidade de auto gestão. O coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR) Enock Taurepang esteve nos dias 10 a 12 de novembro nas roças da região, que contam principalmente com plantações totalmente orgânicas de mandioca, macaxeira, banana, entre outras, e a criação animal.

O acompanhamento as roças foi feito juntamente ao coordenador regional Valério Eurico, o comunicador indígena e conselheiro fiscal do CIR Janderson dos Santos, tuxauas e produtores indígenas. A região Raposa conta com 51 comunidades, com famílias predominantemente da etnia Macuxi, Patamona e Wapichana.

O coordenador Enock visitou as roças das comunidades Xumina, Raposa 2, Matiri, Cachoeirinha, Bismark, Tesu Vermelho, Tesu do Passarinho, Tucumã e comunidade Guariba, onde foram feitos os mapeamentos para fortalecer as atividades produtivas, que se baseiam principalmente em mandioca, macaxeira e seus derivados, no entanto a criação bovina se destaca. Feiras eram realizadas para todas as regiões da T. I. Raposa Serra do Sol, mas com a pandemia foram paralisadas para não aumentar o risco de contagio entre os moradores.

Apesar da pandemia ter afetado de forma bastante incisiva os povos indígenas, a produção não parou. Sendo pelos projetos voltados aos povos, como a implementação dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs), ou por iniciativas das próprias comunidades, que visam o uso consciente e coletivo da terra.

Comunidade Bismark/ Área de retiro para gado

Enock conversou com as lideranças locais que apresentaram demandas, mas sempre mostrando os resultados de suas atividades agrícolas. “Viemos registar as produções, que existe na região, por que se não cuidarmos das nossas produções não teremos nada. Valorizamos os nossos produtores indígenas.” destacou Enock em conversa com as lideranças.

Vista aérea (Drone)/ Roça comunitária Comunidades Tesu vermelho e Tesu do Gavião

Na coordenação da região Raposa há cinco anos, Valério Eurico conta que apesar das atividades como liderança estarem focados no centro regional e nas comunidades, nunca deixou de plantar para a sua família.

“Todas as comunidades que visito na região, todos tem muitas atividades, e ainda consigo  plantar para minha família. A Roça é um sustento familiar, e é muito bom, temos também nosso gado, é bonito quando a gente vê e tem a roça. Produzimos as nossas roças, temos alimentos saudáveis e orgânicos, eu me criei assim, na roça.” Afirmou.

Local de moradia e Valério Eurico, Comunidade Raposa 2

O produtor Joaquim Paulino é da comunidade Xumina, tem plantações de bananas e se orgulha em dizer que já doou para outras locais, como a comunidade Camará com 15 mudas de banana. “Sou indígena macuxi, tenho 70 anos de idade, mais ainda tenho coragem de trabalhar, vocês estão vendo minha plantação, tenho de dizer que nós indígenas não morremos de fome, somos trabalhadores”, disse.

Narlene da Silva, a quatro anos é tuxaua da comunidade Cachoeirinha, segundo levantamento da liderança, são dez pais de família e uma população geral de 50 pessoas, ela ainda afirma que todos criam pelo menos porcos, patos, picotes e galinhas. A comunidade tem um rebanho de 55 cabeças de gado, possuem plantio de cana, batata, roças tradicionais de mandioca, macaxeira, abobora, milho e feijão.

“O acesso para minha comunidade é difícil, para chegar aqui, tem que atravessar os igarapés cheios. Sofremos com essa pandemia, mas cuidamos dos nossos parentes. Quando dizem que nossa comunidade é isolada, me dói porque não estamos isolados, só é difícil vir pra cá, e aqui não morremos de fome. Nós indígenas temos força para trabalhar”, explicou.

Toda visita realizada pelo coordenador geral do CIR, será documentada em um relatório para a fomentação de apoios as áreas produtivas da Região Raposa. Uma das formas de estabelecer mais incentivos aos produtores indígenas. Visando a melhoria das comunidades e fortalecer mais ainda o direito ao simples ato de ter, pertencer e usufruir de forma sustentável a terra herdada de seus ancestrais.

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