Comunidades indígenas de Roraima recorrem à medicina tradicional contra o novo coronavírus

Medicamentos tradicionais fazem parte da cultura ancestral indígena. FOTO: Ademar Cavalcante/Arquivo/2019

Com a falta de assistência e até de medicamentos nos postos de saúde nas comunidades de Roraima, comunidades indígenas decidiram se unir para impulsionar a medicina tradicional no combate ao novo coronavírus.

Vendo os moradores adoecendo e ficando desassistidos em meio à pandemia do novo coronavírus, a comunidade São Mateus, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, resolveu agir. Voluntários se uniram para aumentar a produção de xaropes usando plantas medicinais existentes na região. A prática de recorrer aos medicamentos extraídos da natureza é milenar e vem dos saberes deixados pelos ancestrais.

Os medicamentos produzidos são para toda a população da comunidade, mas principalmente para as lideranças que estão nas barreiras sanitárias colocadas na entrada e saída da comunidade para evitar o fluxo de pessoas. Caso as comunidades vizinhas precisem, também são feitas doações.

De acordo com a Agente Indígena de Saúde (AIS) Linda Lima, a produção dos xaropes é realizada em conjunto com as lideranças, pajés, benzedoras, parteiras, entre outros.

“Estamos fazendo os xaropes com plantas amargas como o boldo, orelha de onça, e outras plantas também”, disse a agente indígena.

Produção de medicamentos tradicionais cresceu em razão da pandemia. Foto: Letícia Monteiro

Outra comunidade que tem fabricado os xaropes usando as plantas medicinais é a comunidade Tabalascada, Terra Indígena Tabalascada, região Serra da Lua. O trabalho uniu voluntários e a equipe de saúde da comunidade.

Em 2019, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) apoiou por meio da Secretaria Geral do Movimento das Mulheres Indígenas, várias oficinas sobre a medicina tradicional para aperfeiçoar e repassar os saberes tradicionais para as mulheres e jovens. As aulas foram ministradas pela líder indígena Lucila Mota de 82 anos, da etnia Wapichana, que trabalha com a medicina tradicional há mais de 20 anos.

“O resultado desse trabalho foi positivo, pois com as iniciativas das realizações das oficinas nas bases, tivemos uma grande valorização da medicina tradicional, o que agora é muito importante frente à Covid-19”, destacou Maria Betânia Macuxi, Secretária Geral do Movimento das Mulheres Indígenas.

Desde o ano passado a região Tabaio intensificou a produção da medicina tradicional na comunidade Anta II. A comunidade possui um espaço no posto de saúde e, nesse período de pandemia distribuem para as outras comunidades da região.

“Os xaropes que fizemos são para nós e também para as comunidades vizinhas”, disse a coordenadora da medicina tradicional da região Tabaio, Rosângela Raposo Batista.

Além do trabalho nas comunidades, os xaropes também estão sendo fabricadas em Boa Vista pela enfermeira Letícia Monteiro Taurepang e pela dona Iolanda Pereira Macuxi. As duas, preocupadas com indígenas que moram na cidade e com aqueles que vêm para a Boa Vista para se tratar, resolveram fabricar os xaropes para de alguma forma ajudar.

“Fabricamos 50 potinhos de 200ml e vamos continuar na produção dos xaropes para os nossos parentes, mantendo os nossos saberes tradicionais”, disse Letícia