Comunidades indígenas criam grupos de proteção e vigilância para defender seus territórios

As constantes ameaças contra os povos indígenas e a deficiência do Estado na fiscalização dos territórios indígenas levou as comunidades das regiões; Raposa, Baixo Cotingo, Tabaio, Serras, Serra da Lua, Murupu, Amajarí, Wai-Wai e Surumu a criar o Grupo de Proteção e vigilância dos territórios indígenas (GPVIT) com intuito de garantir a segurança das terras indígenas.

Com objetivo de apoiar as iniciativas das comunidades o departamento Jurídico do Conselho Indígena de Roraima(CIR) realizou no dias 16 à 18 de dezembro o primeiro encontro estadual dos agentes de proteção e vigilância dos territórios indígenas. Com participação de aproximadamente 354 agentes Indígenas o encontro ocorreu no tradicional lago caracaranã, região Raposa, TI indígena Raposa Serra do Sol.

O intuito foi de reunir os agentes para trocas de experiências, entender os riscos e ameaças que as terras indígenas vêm sofrendo, além de fazer a capacitação dos vigilantes para atuação em defesa de seus territórios.

Durante os dias do encontro foram realizados capacitações básicas de “primeiros socorros” e “ prática de defesa pessoal” com pessoas técnicas e especializadas.

Para fazer a troca de experiências os parentes do Estado no Maranhão, Cláudio Josi, etnia Guajajara, coordenador Geral dos Guardiões da floresta da terra indígena Carú e o cacique Iracadyu Ka’apor, etnia Ka’apor, T.I Alto Turiacu participaram da reunião e repassaram suas atuações em seu Estado como guardiões.

Atuações do GPVIT

 Para garantir que seus territórios sejam protegidos os grupos de vigilantes são cada vez mais capacitados nas comunidades, no entanto, vale ressaltar que a atuação na defesa da terra já existiam antes de consolidar os agrupamentos dessas lideranças no GPVIT, o cuidado da mãe terra sempre ocorreu, portanto, com o crescimento da violência nas margens das terras indígenas e a negligência do Estado em garantir a proteção, torna-se de extrema importância a preparação dessas pessoas para fazer a segurança das comunidades.

Na comunidade Pium, região serra da lua, o grupo é um dos mais antigo desde as capacitações ocorridas na comunidade Manoá. Conforme o coordenador regional da Serra da lua, Joacy Alexandre, etnia Wapichana, as atividades são muito amplas foca desde a parte ambiental até estudo sobre direito indígena.

“O grupo GPVIT foi capacitado, mas na verdade ele sempre existiu, com o avanço das drogas e da criminalização o grupo foi criado e já têm cinco de existência na comunidade Pium e três anos na região Serra da Lua, e isso têm ajudado bastante na organização social da comunidade, na verdade tudo ocorre porque o Estado tem uma deficiência muito grande de atender nossas localidades, uma vez que estamos nas margens da fronteira entre Brasil e Guyana. Nós trabalhamos na parte de vigilância, ambiental, palestra para os jovens na área do direito” destacou Alexandre.

E solicita ao Estado que os ajude nesse trabalho de proteção de seus territórios.

Além de homens o grupo também conta com a participação das mulheres, Maria Alcinda Mota, etnia Macuxi, comunidade Barro é uma das guerreiras que estão sendo habilitadas, ela ressaltou da importância dessa participação, pois, muitas mulheres têm sofrido com violência doméstica e procura repassar para elas o acolhimento e também empoderamento delas nas atividades nas comunidades.

Maria Alcinda

“Estamos participando desse grupo de proteção porque existem muitas mulheres que sofrem com violência, as vezes por ciúmes do marido as elas não vão para assembleias, e nós queremos ajudar elas, pois, muitas delas sofrem caladas e muitas das vezes não sabem lhe dar com esses problemas, nosso papel dentro da segurança é muito importante, queremos caminhar junto com todos, uma parceria para poder melhorar a segurança em nossas comunidades e também junto com a juventude e crianças, apesar dos grupos serem a maioria homens, nós queremos quebrar esse tabu que somos capazes de fazer de igual modo as mesmas atividades que eles também fazem” disse Alcinda.

Apesar dos grupos serem a maioria homens, nós queremos quebrar esse tabu que somos capazes de fazer de igual modo as mesmas atividades que eles também fazem”.

Renato Pereira, etnia Macuxi, coordenador regional do GPVIT da região Raposa, falou sobre o primeiro encontro e destacou a relevância desse momento para eles.

 “Estamos participando desse encontro e está sendo muito bom, estamos aprendendo com a experiência dos outros grupos, nós somos novos roupa de sumo ainda na atuação, aqui estamos entendo algumas técnicas e práticas para trabalhar em nossas comunidades” afirmou Pereira.

coordenadores estadual do GPVIT

Ao Final do primeiro encontro foi escolhido o coordenador e vice coordenador estadual do Grupo de Proteção, sendo o coordenador Cléber Macuxi da região Baixo Cotingo e Elizeu Taurepang da região Amajarí .

Fotos: Ariene Susui